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Casos de covid-19 disparam e lotam hospitais no país

Números chegam a níveis nunca registrados; estados e municípios relatam alta de ocupações em leitos de UTI

Um quarto da população não tomou nenhuma dose da vacina. Pelo menos um terço não completou o esquema de duas doses - José Cruz/Agência Brasil

O Brasil nunca registrou tantos casos de covid-19 ao mesmo tempo quanto agora. Nos últimos 30 dias, a média de pessoas infectadas a cada 24 horas aumentou quase 40 vezes. A semana que se encerra neste sábado (22) já é a pior no país desde os primeiros relatos do coronavírus em solo nacional.

Antes mesmo do fim do período e do fechamento dos dados, mais de 770 mil novas confirmações da doença foram relatadas. O recorde anterior, registrado em março do ano passado, era de 539 mil.

Os números podem ser ainda mais expressivos, já que o sistema do Ministério da Saúde, que colhe informações dos estados, ficou mais de um mês fora do ar. O virologista Rômulo Neris, aponta que o prejuízo nas informações ainda não foi totalmente revertido

“É um cenário muito complexo e muito difícil de fazer previsões acuradas e adequadas, a gente vem de quase um mês de apagão de casos. A gente precisa considerar que foi no início do apagão que a variante ômicrom começou a se consolidar aqui no Brasil. Quando a gente perde o acesso aberto a esse sistema, isso acaba prejudicando muito dos nossos esforços de monitoramento e vigilância”

Membro da Equipe Halo, iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) que reúne especialistas do mundo todo em ações de combate ao coronavírus, Neris alerta ainda para o impacto que a escassez de testes tem no número de casos registrados.

“A gente não tem um padrão de testagem suficiente para a quantidade de indivíduos que estão manifestando sintomas e sendo considerados suspeitos”, ressalta o virologista.

Cenário dramático

Fora do papel, os números apontam que o esgotamento do sistema de saúde pode estar próximo. Segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz, até 15 de janeiro quatro estados já tinham ocupação de Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) em nível crítico, acima de 80%: Pernambuco (86%), Mato Grosso (84%), Goiás (81%) e Espírito Santo (80%).

Embora com índices um pouco menos expressivos, o alerta se estende a outras 11 unidades da federação, que têm mais de 60% dos leitos da UTI ocupados: Amazonas (77%), Tocantins (76%), Distrito Federal (74%), Ceará (71%), Piauí (67%), Bahia (66%), Rio Grande do Norte (65%), Mato Grosso do Sul (65%), Pará (63%), Roraima (60%) e Maranhão (60%).

Não é só a Fiocruz que aponta tendência de alta na lotação de vagas de UTI. Relatório da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) aponta que a ocupação das unidades aumentou de 40,84%, entre os dias 25 e 31 de dezembro do ano passado, para 58,75% entre 8 e 14 de janeiro deste ano. Também houve piora de cenário nos ambulatórios, de 47,31% para 77,07%.

Nos relatos que vêm de estados e municípios a escalada da covid tem consequências práticas. O governo de São Paulo, por exemplo, informou que o número de crianças e adolescentes que precisam de internação em UTI aumentou mais de 60% nos últimos dois meses.

No Rio Grande do Sul, a gestão estadual teme déficit de leitos já a partir do mês que vem e solicitou que o Ministério da Saúde não leve a frente o planejamento para deixar de custear mais de mil unidades que correm o risco de ser fechadas. 

A capital cearense, Fortaleza, têm relatos de 100% de ocupação para leitos infantis em pelo menos três grandes hospitais. A situação é semelhante em Manaus, no Amazonas. Em Rondônia, o governo decidiu reabrir leitos na capital Rondonia, depois que a ocupação chegou a 90%.

No interior paulista, a prefeitura de Campinas informou a fila de espera para leitos de alta complexidade no SUS tem mais de 100 pessoas. Em Uberaba, Minas Gerais, a lotação também é crítica.

A lista de cidades que enfrentam lotação crítica só aumenta. Nela estão também Cuiabá, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e diversas outras nos interiores e regiões metropolitanas de todo o país.

Óbitos

O aumento no número de contaminações não se reflete no crescimento dos óbitos na mesma proporção que a observada no ano passado. Em abril, o país chegou a registrar mais de 3 mil casos fatais em 24 horas.

Hoje, a média diária é inferior a 300. Ainda assim, o total de mortes por dia vem crescendo nas últimas semanas. Segundo Rômulo Néris, é provável que o Brasil não chegue a níveis de óbitos semelhantes aos dos piores cenários da pandemia. O principal motivo para isso é o avanço da vacinação.

Ainda assim, com o crescimento sem precedentes dos casos, as mortes tendem a aumentar. “É possível que a gente veja um aumento, que ainda vai se consolidar com mais robustez daqui pra frente agora que estamos vendo esses números recordes de casos. Não foi diferente em outros países.”

O virologista alerta que o total de pessoas não vacinadas, no entanto, ainda é alto e representa risco. “Um quarto da população não tomou dose nenhuma da vacina. Pelo menos um terço não completou o esquema de duas doses. É muita gente.”

Altamente transmissível, a ômicrom – variante que predomina no Brasil – coloca essas pessoas em situação de grande vulnerabilidade. “Não importa que ela seja uma variante mais leve, se ela infecta em uma velocidade dez vezes maior”, explica Neris. Ele alerta que o descontrole da transmissão emperra a possibilidade de contenção de novas cepas.

 “Toda vez que uma nova variante surge, indiretamente, a gente tem a sensação de que esse é nosso inimigo final. Mas nós não conseguimos controlar o quanto um vírus é capaz de se modificar. O que vai acontecer com essas variantes? Isso é impossível prever,” concluí o virologista.

Nova variante

Cientistas franceses estão acompanhando de perto uma subvariante recentemente descoberta da versão omicron do vírus COVID-19 para determinar como seu surgimento pode afetar a pandemia no futuro.

A variante omicron inicial tornou-se a cepa de vírus dominante nos últimos meses, mas as autoridades de saúde britânicas identificaram notavelmente centenas de casos da versão mais recente, apelidada de BA.2.

Dados internacionais sugerem que pode se espalhar de forma relativamente rápida.

A Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA) identificou mais de 400 casos na Grã-Bretanha nos primeiros dez dias deste mês e indicou que a variante mais recente foi detectada em cerca de 40 outros países, representando a maioria dos casos mais recentes em alguns países, incluindo Índia, Dinamarca e Suécia.

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