A Amazônia está no coração da Igreja. É preciso saber o que está ocorrendo nesta região, atingida por ataques contra a natureza, contra os seus povos. Esta é a mensagem que o Sínodo quer transmitir aos povos da região da pan-amazônica.
Foi o que afirmou Dom David Martínez de Aguirre Guinea, Vigário Apostólico de Puerto Maldonado (Peru), respondendo às perguntas dos jornalistas. “Quando eu voltar à Amazônia – disse ele – direi que estamos no coração do Papa, da Igreja. Temos boas razões para continuar a sonhar, a ter esperança. Temos esperança em Jesus para continuar neste caminho. O Sínodo foi um caminho de discernimento: “Ouvimos – disse o Vigário Apostólico de Puerto Maldonado – o grito de dor da terra e dos pobres. “Nenhum católico pode viver a sua fé sem considerar o grito da terra: é preciso ter consciência de que agredir a terra é um pecado ecológico”.
Este grito de asfixia foi ouvido: no Sínodo “o rosto das comunidades dos povos indígenas foi percebido”. Povos que vemos asfixiados por interesses econômicos”. É emblemática – observou Dom David Martínez de Aguirre Guinea – a frase pronunciada por um dos nativos, membro de um povo indígena: “Infelizmente, a extração de ouro está mais próxima de nossas comunidades do que as palavras de Deus”. “Queremos – ressaltou – que os povos indígenas assumam cada vez mais um papel de protagonistas em sua história de evangelização. O documento está repleto de testemunhos, de apelos a serem aliados dos povos indígenas. Aqui em Roma veio a Amazônia”. Na Amazônia, recordou o prelado, há processos já abertos: “Há diáconos permanentes em Puerto Maldonado. Há lugares onde estes processos já estão acontecendo. O Sínodo é um empurrão para avançar. É um convite para continuar a encorajar todos aqueles que querem iniciar novos processos”.
Conversões e Tradição
“Sem conversão não há caminhos, não há mudança real.” O cardeal Michael Czerny, subsecretário da Seção de Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, destacou isso, acrescentando que o planeta não pode mais esperar: “com a Amazônia queimando, muitas pessoas estão percebendo que as coisas devem mudar”. A primeira mudança, a mais importante, é pastoral. “Devemos fazer melhor – disse o cardeal – para levar o Evangelho a todos. As pessoas querem ouvir palavras de esperança, querem ouvir o Evangelho. Outra conversão é cultural. “O que realmente significa neste contexto – explicou o Cardeal Michael Czerny – é respeitar o outro tal como ele é no mundo.As diferenças devem ser acolhidas”. A terceira conversão é ecológica. “Este é um esforço muito importante”, afirmou o purpurado.
“A crise ecológica é tão profunda que se não mudarmos, não conseguiremos”. Em algumas regiões do mundo, como na Amazônia, por interesses econômicos se toma “tudo aquilo que tem valor”. E se acaba por destruir “não somente a Amazônia, mas todo o planeta”. “Não vamos deixar que as riquezas da Amazônia se transformem numa maldição”. A conversão é sinodal. “É um modo de proceder – explicou o cardeal Michael Czerny – para traduzir a nossa escuta, a nossa oração” num caminho. Para proceder, como recordou o Papa, se deve voltar à tradição, “que não é um objeto de museu, um armazém para as cinzas”. “A Tradição – disse – é um recurso para o futuro. É aquilo que nós devemos oferecer para ir avante. Temos um recurso a preservar: a nossa fé, a Palavra de Deus”.
Sínodo em caminho
O documento é fruto de um caminho que se insere num percurso que continua, disse o padre Giacomo Costa, secretário da Comissão para a informação, acrescentando que no centro da atenção está o diagnóstico do que está acontecendo na Amazônia”. “Deve-se transmitir a alegria do caminhar juntos em todas as igrejas da Amazônia, mas também com outras pessoas de boa vontade que querem cuidar da casa comum”. Os especialistas – disse o padre Costa – também traduziram “as nossas preocupações em esperanças”. “Existem soluções razoáveis. Mas é necessária uma autêntica conversão.
“São possíveis soluções para a Amazônia – destacou – só e somente se as árvores não forem cortadas e as águas continuarem a escorrer. Se nós insistirmos em escavar o terreno e cortar as árvores, não haverá futuro”. Respondendo às perguntas dos jornalistas, os relatores recordaram, por fim, que as propostas contidas no documento sobre vários temas não são vinculantes, mas são confiadas ao discernimento do Papa.
O Pontífice, concluiu Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação, espera publicar, até o final do ano, a Exortação pós-sinodal.
Fonte: Canção Nova Notícias