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O barroco e o caipira: músico brasileiro transporta Bach para a viola

Autor lança livro de partituras com obras do compositor alemão “traduzidas” para o instrumento

O barroco e o caipira: músico brasileiro transporta Bach para a viola
Vinicius conclui projeto de 10 anos: equilíbrio sem estereótipos

As cordas da brasileiríssima viola caipira se encontraram com o barroco de Johann Sebastian Bach pelas mãos do músico brasileiro Vinicius Muniz, que acaba de lançar um livro de partituras como resultado de um projeto de aproximadamente 10 anos. Com isso, o autor supera um desafio: buscar “equilíbrio entre a música barroca e a sonoridade e possibilidades da viola caipira, sem estereótipos”.

Com prefácio do compositor e professor universitário Ivan Vilela, o livro acaba de ser lançado em pré-venda pelo músico, que nasceu em Santos, morou em Campinas (estudou composição musical e fez mestrado na Unicamp) e há sete anos está em Barcelona. Em 2017, ele lançou o primeiro álbum solo, J. S. Bach | Viola Brasileira. Entre outros trabalhos, já havia participado e gravado com o grupo Viola Arranjada e com a Orquestra Filarmônica de Violas.

Clássico e popular

Vinicius conta que chegou a estudar violão clássico. “Mas confesso que minha forma de tocar é pautada mesmo na viola, porém uma linha de pensamento que vem desde Renato Andrade a Ivan Vilela. Tive a sorte de estudar e conviver com grandes violeiros que me ensinaram muito”, diz o músico, que aprecia os autores da chamada música raiz. “Ao fazer esse projeto, voltei meus olhares ainda mais para esse repertório na busca de elementos fundamentais da sonoridade da viola que permitissem um equilíbrio ao interpretar as obras de Bach.”

Assim, o projeto do livro tem “tradução” como palavra-chave, segundo Vinicius. Ele ressalta a importância da busca da palavra adequada, não literal, para um tradutor que tem pela frente, por exemplo, uma obra como Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.

“Um tradutor faz uma análise profunda da obra e, busca no outro idioma as expressões, palavras e conceitos que possam representar ao máximo todas as ideias propostas por Rosa, não bastando apenas traduzir palavra por palavra”, compara Vinicius. “No nosso caso, nota por nota. Era fundamental encontrar nas sonoridades e técnicas da viola aquelas capazes de expressar com precisão o texto musical proposto por Bach.”

Outras técnicas

Ele lembra de uma curiosidade durante o curso de graduação. “Os colegas da composição me consideravam popular por tocar viola, já os colegas do curso de música popular me consideravam ‘folclórico’. Ou seja, durante minha estada na universidade, não tinha um porto seguro para ancorar. E isso foi bom, pois podia absorver elementos dos dois universos. Então, isso me permitiu estudar Bach e outros compositores mais profundamente, pois fazia parte do curso”, diz Vinicius.

Já no mestrado, o tema foi o mestre violeiro Renato Andrade. Durante as pesquisas, ele descobriu, como diz, “um disco esquecido” na música brasileira: Bach na viola brasileira, gravado em 1971 pelo violonista Geraldo Ribeiro – que segue na ativa, aos quase 84 anos. Vinicius gosta do álbum, mas considera que Ribeiro modificou o instrumento, mudando a ordem das cordas, para poder tocar. “Então, meu pensamento foi: como seria fazer essa tradução de Bach utilizando as técnicas modernas da viola brasileira de 10 cordas. E aí comecei minha jornada. Ao final, o resultado é completamente diferente da proposta de Ribeiro, vai por outro caminho, com outras técnicas.”

Ouça aqui uma das gravações do músico brasileiro.
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