Itaipu: Denúncia de que acordo beneficiou empresa supostamente ligada a Bolsonaro vira crise política no Paraguai

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Acordo secreto assinado em maio entre Brasil e Paraguai foi divulgado na semana passada por ordem do Senado do Paraguai e já resultou na renúncia do ministro das Relações Exteriores e do diretor de Itaipu, Pedro Ferreira, que considerou o tratado como “alta traição” e “extorsão financeira” e gerou protestos em Assunção e outras cidades no país.

Reportagem publicada nesta quarta-feira (31) pelo Jornal ABC do Paraguai, revela que o advogado José Rodríguez González, que atua como assessor jurídico informal do vice-presidente, Hugo Velázquez, intermediou a exclusão de uma cláusula para beneficiar a  empresa brasileira Léros Comercializadora, que seria ligada à família Bolsonaro, no acordo secreto de renegociação da Usina hidreelétrica de Itaipu, assinado no dia 24 de maio pelos presidentes Jair Bolsonaro e Mario Abdo Benítez.

O acordo só foi tornado público na semana passada por exigência do Senado paraguaio. No documento, um dos termos – classificado pela mídia paraguaia como ítem 6 – teria sido excluído para beneficiar a empresa brasileira, do setor de energia, que seria ligada clã Bolsonaro, segundo González.

O “item 6” estava no projeto original do acordo e dizia que a Administración Nacional de Electricidad (ANDE), do Paraguai, poderia comercializar energia excedente no mercado brasileiro, afetando os negócios da Léros.

Segundo o jornal ABC, em 23 de maio, às vésperas do dia em que o acordo secreto foi assinado em Brasília, González enviou aos executivos da ANDE uma das mensagens mais comprometedoras. Em nome do presidente Mario Abdo Benítez e do vice Hugo Velázquez, ele solicitou a exclusão do item 6 do Acordo Bilateral com o Brasil.

O advogado teria escrito em mensagem que o item 6 não deveria ser incluído “porque em conversas com o mais alto comando do país vizinho, concluiu-se que não é o mais favorável, a fim de proteger o manuseio prudencial da informação para que a operação em andamento seja efetivada com o maior sucesso”, informa o jornal. Dessa forma, a ANDE, estatal de energia paraguaia, não poderia mais comercializar o excedente de energia em solo brasileiro.

Em nome da família presidencial

Ainda segundo o ABC, o advogado do vice-presidente paraguaio teria solicitado nos dias 3 e 5 de junho um encontro entre executivos da ANDE com a empresa Leros “para uma breve reunião sobre a compra de energia excedente para o mercado brasileiro”, que seria intermediada agora pela empresa brasileira.

“ Eles vêm em nome da família presidencial do país vizinho”, escreveu o advogado Rodríguez González. No acordo negociado, a Leros pediu à estatal exclusividade para negociar o excedente de energia de Itaipu em solo brasileiro.

Crise e renúncia

As recentes revelações do acordo secreto entre o governo Mario Abdo Benítez para beneficiar Bolsonaro e empresas ligadas ao seu clã,  resultou na renúncia do ministro das Relações Exteriores, Luis Castiglioni, e três outros altos funcionários, incluindo o diretor paraguaio de Itaipu, segundo informa o jornal El País.

Segundo o jornal, a crise começou com a surpreendente renúncia do presidente da empresa estatal de eletricidade, a ANDE, Pedro Ferreira, na última quarta-feira. O funcionário deixou o cargo alegando que queriam obrigá-lo a assinar um acordo com o Brasil sobre Itaipu que não convinha ao Paraguai.

“Alta traição” e “extorsão financeira” foram as frases utilizadas por Ferreira para definir o texto secreto assinado por Abdo Benítez e Jair Bolsonaro.

Segundo a cientista política, professora e pesquisadora paraguaia Cecilia Vuyk, o acordo implica que seu país não poderá avançar em um maior uso de energia para novas indústrias e transporte elétrico e impedirá a contratação e venda de energia excedente a terceiros, mantendo a transferência da maior parte dela ao Brasil.

Nesta quarta-feira, para agravar o quadro, partidos políticos de oposição anunciaram que irão pedir o  impeachment do presidente Abdo Benítez e do vice-presidente, Hugo Velásquez.

A iniciativa é apoiada por importantes forças de oposição com presença parlamentar, como o Partido Liberal Radical Autêntico , o Partido do Encontro Nacional (PEN) , e outros sem legisladores como o PRF , o Partido e outros.

“É claro que (a iniciativa) se relaciona precisamente com a traição e isso significa mau desempenho em suas funções em termos da Constituição Nacional como causa de processo político”, disse Efraín Alegre , presidente do PLRA.

*Da Redação com informações da Revista Fórum e Jornal ABC do Paraguai

Foto: Norberto Duarte AFP/Jorge Adornos/Twitter

 

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