Dados sobre monitoramento hídrico, realizado pela Fundação Renova em 92 pontos da bacia do rio Doce, sendo 22 com coletas automáticas, incluindo cidades como Governador Valadares, Linhares e Colatina, no estado do Espírito Santo, mostravam, em dezembro do ano passado, que o nível de turbidez das águas está semelhante ao observado nos períodos chuvosos desde 2016/2017 e abaixo dos níveis verificados no período pós rompimento de Fundão.
Neste período chuvoso, os níveis de turbidez retornaram à faixa abaixo do alerta (1.050NTU), como indica o gráfico a seguir. À época do rompimento da barragem de Fundão, em novembro de 2015, a turbidez em Governador Valadares chegou a 2.604,3NTU. No recente período chuvoso, marcado por volumes de chuva históricos, a média do nível de turbidez nessa cidade mineira está em 120,7NTU, de acordo com os dados divulgados pela Fundação.
O gráfico mostra dados comparativos de turbidez que se referem ao período emergencial (relativo à época do rompimento, 2015/2016).
Saúde
Em dezembro de 2019, foi divulgado Relatório de Consolidação de Estudos de Avaliação de Risco à Saúde Humana (ARSH), onde se afirma que não há metais decorrentes do rompimento da barragem do Fundão que representem risco toxicológico à saúde humana. Por isso, não há limitação de atividades agropecuárias nem consumo de água (desde que tratada) ou necessidade de remoção dos moradores na região de Mariana e Barra Longa.
No dia 13 de janeiro, o juiz da 12ª Vara Federal homologou a Gestão Ambiental Integrada para Saúde e Meio Ambiente (Gaisma) como instrumento para a realização de novos estudos para avaliar o risco à saúde humana e o risco ecológico em todos os municípios atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão.
De acordo com a Fundação, atualmente, cerca de 70 profissionais contratados, entre médicos, enfermeiros,assistentes sociais e psicólogos atuam em Mariana e Barra Longa na assistência à população local. Além das ações de apoio direto aos serviços de saúde nos municípios, são discutidas propostas para fortalecer o atendimento a demandas sobre toxicologia com o governo de Minas Gerais.
Na pauta, estão iniciativas como a melhoria de laboratórios públicos regionais, capacitação de profissionais de saúde dos municípios atingidos, revisão do protocolo de avaliação toxicológica para metais e a implementação de um plano de monitoramento e reabilitação ambiental.
Também está em discussão na Câmara Técnica de Saúde a realização de estudos adicionais para aprofundar as análises em Mariana e Barra Longa.
Rios, MAB e Assembleia mineira
Para cobrar das instituições públicas uma resposta com relação às enchentes que afetam dezenas de municípios no estado, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), promoveu entrevista coletiva ontem, na Assembleia mineira, em Belo Horizonte.
Segundo lideranças do MAB, o problema foi agravado por consequência dos rompimentos de barragens, qualificados como crimes, que assorearam os rios Doce e Paraopeba, com rejeitos de minério depositados após os rompimentos das barragens de Fundão (2015) e Córrego do Feijão (2019).
“Com o assoreamento do rio, a lama, por meio das enchentes, se espalha por locais onde antes não passava. Os atingidos vivem um processo de envenenamento crônico, há estudos que comprovam que a poeira domiciliar está contaminada com metais altamente tóxicos”, afirma José Geraldo Martins, militante do MAB. Além do contato direto com a lama durante o período chuvoso, a população permanece em risco porque, quando a lama seca, se transforma em poeira carregando partículas de componentes como: cádmio, alumínio, chumbo, ferro, manganês e níquel, que, com o vento, saem da região afetada. Os estudos citados por Martins foram produzidos por Lactec, Ambios e parceria com a UFOP, Universidade Federal de Ouro Preto.
De acordo com os atingidos, há preocupação com a chegada dos rejeitos na bacia do rio São Francisco, com a abertura das comportas da barragem de Retiro Baixo até a Usina de Três Marias. Guilherme Camponez, também militante do MAB, trouxe um alerta sobre as barragens hidrelétricas que, com as enchentes, estão abrindo as comportas: Aimorés, Candonga e Baguari, em Minas Gerais. “Queremos o apoio das instituições de justiça para que sejam responsabilizados os responsáveis pela piorar das enchentes, e no nosso entendimento é a Vale”, diz Camponez.
Foto capa: SAAE GV