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Academia Orquestra Ouro Preto apresenta ópera com renda revertida para a Santa Casa de Ouro Preto

Foto: Íris Zanetti

Após o sucesso da estreia, o Grande Governador da Ilha dos Lagartos volta à Casa da Ópera em três apresentações nos dias 19 e 20 de dezembro 

Após o sucesso da estreia, a Academia Orquestra Ouro Preto retorna à Casa da Ópera, em Ouro Preto, nos dias 19 e 20 de dezembro, com o entremez “O Grande Governador da Ilha dos Lagartos”. Toda a renda será revertida para a Santa Casa de Ouro Preto. Os ingressos estão à venda com as voluntárias da Avoscop e no GLTA (R. Paraná, 136, Centro – Ouro Preto/MG). A entrada custa R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia). Na quinta-feira, 19, a apresentação será às 20h. Já na sexta-feira, 20, serão duas sessões às 17h e às 20h.

As apresentações marcam o encerramento da temporada 2019 que será realizado com concertos e espetáculos em Mariana, Ouro Preto e Belo Horizonte. Durante o ano, a Orquestra realizou mais de 50 concertos, em 18 cidades, para mais de 110 mil pessoas. “O ano foi marcado por grandes conquistas. Inclusive, a Academia Orquestra Ouro Preto é a concretização de um antigo desejo e uma das realizações de 2019. Não podíamos encerrar a temporada sem nos apresentarmos em nossa cidade. Serão duas noites especiais e em prol da Santa Casa de Ouro Preto”, destaca o Maestro Rodrigo Toffolo, regente titular e diretor artístico da Orquestra.  

As primeiras apresentações do entremez foram realizadas em agosto deste ano, em Ouro Preto, na Casa da Ópera. O texto do compositor Antônio José da Silva foi selecionado por duas razões. A primeira delas é o fato de ser uma das raras óperas escritas em língua portuguesa, a segunda é porque, neste ano, completou-se 280 anos da sua morte. E o palco escolhido para receber a peça foi o histórico prédio que abriga a Casa da Ópera de Ouro Preto, teatro mais antigo em funcionamento na América Latina. “A proposta é que as pessoas sintam a história de outro jeito, ao assistir uma ópera no local que foi feito especialmente para esse tipo de espetáculo”, explica Toffolo.

Os figurinos da montagem vêm de uma parceria firmada entre o Maestro e Eliane Parreiras, presidente da Fundação Clóvis Salgado. Os modelos fazem parte do acervo do Palácio das Artes e já foram utilizados em mais de 80 espetáculos ao longo dos últimos 45 anos. Com isso, a Academia Orquestra Ouro Preto promove uma visita à história de forma viva e única, que permite ao espectador conhecer uma parte da cultura brasileira ligada à ópera, à literatura e ao teatro em um único espetáculo.

O projeto visa também favorecer a formação de novos públicos a partir da versatilidade ao mesclar a música de concerto com o teatro, servindo como um impulsionador da popularização da arte. “O cenário é perfeito: a casa de ópera mais antiga do Brasil em funcionamento somado a um cenário, figurinos e todo um aparato tecnológico que levará o público a uma vivência realística do texto de Antônio José da Silva mesclado à versatilidade dos arranjos da Academia Orquestra Ouro Preto”, diz o Maestro. Essa integração entre ópera e concerto confirma a possibilidade de viabilização e produção de projetos musicais em diversos níveis e de diversas épocas pela Orquestra Ouro Preto, notadamente capaz de envolver o público contemporâneo.

A encenação

Foto: Íris Zanetti

O projeto operístico é levado a cena com 32 integrantes entre atores, atrizes, figurantes e a orquestra, abordando o repertório barraco mesclado a práticas performáticas de todos os componentes.

A direção fica por conta de Julliano Mendes, que estaca questões contemporâneas na montagem do espetáculo. A Academia Orquestra Ouro Preto fica na plateia, de forma que a peça seja vista pelo público de forma única.

O autor

O texto “O Grande Governador da Ilha dos Lagartos” é uma obra do século XIII de autoria do português António José da Silva, que foi um escritor e dramaturgo nascido durante os anos de Brasil colônia na atual cidade de São João de Meriti, no Rio de Janeiro. Apesar de ter sido batizado no catolicismo, António José da Silva tinha origem judaica.

Devido à perseguição religiosa sofrida por sua família, mais especificamente por sua mãe, mudou-se com a família para Portugal no ano de 1712. Dessa forma, estudou direito na universidade de Coimbra, mas sempre cultivou interesse pela dramaturgia. Assim, no ano de 1726, escreveu uma sátira o que, na época, significou para as autoridades cristãs prática judaizante. Essa acusação levou-o à prisão e à tortura pela inquisição portuguesa.

Após ser posto em liberdade, praticou seu ofício de advogado por três anos e voltou a escrever pouco tempo depois, sendo considerado assim um dos maiores dramaturgos de sua época. António José escrevia em sua grande maioria sátiras em que criticava os costumes da sociedade cristã portuguesa, utilizando referências à mitologia e a autores como Miguel de Cervantes. Seus textos continham diversas partes orquestrais importantes e conjuntos cantados, o que faz com que suas peças sejam consideradas óperas.

Pela forma cômica como escrevia suas sátiras, fez inúmeros inimigos e assim, em 1737, foi denunciado como suspeito de judaísmo à Inquisição e preso no mesmo ano junto com a mãe, a tia, o irmão e sua esposa, que à época estava grávida. O autor morreu pela Inquisição em praça pública, no dia 19 de outubro de 1739. Suas comédias foram encenadas em Portugal nos anos da década de 1730. Sua obra teatral inspirava-se no espírito e na linguagem do povo, rompendo com modelos clássicos e incorporando o canto e a música como elemento do espetáculo.

Academia Orquestra Ouro Preto

Inspirada pela vocação musical do Estado e ciente das dificuldades de músicos e musicistas em seguir a carreira profissional no campo da música de concerto, a Orquestra Ouro Preto inaugurou, em março deste ano, a Academia Orquestra Ouro Preto. O projeto, que já nasceu como referência em Minas Gerais, é formado por instrumentistas entre 18 e 28 anos de idade que têm em comum a paixão pela música, enxergando nela um futuro promissor e porta de entrada para a transformação de realidades sociais por meio da cultura.

A ideia da Academia é aperfeiçoar e lapidar o talento de jovens violinistas, violistas, violoncelistas e contrabaixistas já iniciados, mas que encontram uma série de obstáculos para dar prosseguimento ao sonho de se tornarem profissionais, sobretudo, devido ao alto custo dos investimentos, o que acaba por afastar um grande número de pessoas com potencial e vivência necessária para inserirem no mercado da música.

Com sede no Sesc Palladium, em Belo Horizonte e atividades semanais, a Academia conta, atualmente, com 22 alunos e alunas, de diferentes regiões do Estado, que participaram de um processo seletivo em janeiro último, com 149 candidatos inscritos. Os aprovados recebem uma bolsa no valor de R$ 700,00 por mês, além de material didático cedido gratuitamente, num formato inédito no que tange o incentivo para estudo e prática da música no país. As atividades são presenciais e ministradas por músicos e professores da Orquestra Ouro Preto. 

Rodrigo Toffolo, diretor artístico, regente titular da Orquestra Ouro Preto e idealizador da Academia, aponta que a iniciativa foi construída sob o signo da inclusão, enfatizando os valores artísticos da Orquestra e sua forma de fazer música, que a elevaram ao status de uma das mais importantes e premiadas formações orquestrais do país. “A Academia é materialização de um sonho antigo e mais um passo importante na história da Orquestra Ouro Preto. Queremos mostrar para esses jovens a música como modo de vida possível, e dar oportunidade de inserção no mercado, através de um trabalho prático e, sobretudo, humano. Uma maneira diferenciada de fazer música, algo que o público poderá apreciar nos concertos”, comenta Toffolo.

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