Adoção inconsequente também tem alta durante o isolamento e assunto foi debatido em audiência na ALMG nesta segunda (8).
Durante a pandemia da Covid-19, o número de abandono de animais tem aumentado significativamente. As estimativas é de que, em Belo Horizonte, cresceu em mais de 40% o número de cães e gatos nas ruas. O assunto foi o centro de debate, nesta segunda-feira (8/6/20), da primeira audiência pública remota da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Os dados, apresentados pelo presidente da comissão, deputado Noraldino Júnior (PSC), se repetem em todo o País e abrem a discussão para outro problema que também ampliou nesse período de isolamento social: a adoção inconsequente.
Noraldino Júnior explicou que muitas pessoas acabam desejando adotar um animal para uma companhia momentânea nesse momento de solidão, sem avaliar as condições para continuar mantendo-o depois.
“Se não adotarmos medidas para que sejam realizadas adoções com metodologia, corremos risco de aumento significativo de abandono pós-pandemia, de animais adotados e que também estão sendo comprados, especialmente do mercado clandestino, que responde por 90% da comercialização de animais”, advertiu.
O alerta foi repetido por outras duas participantes da audiência pública: a coordenadora de Fauna e Pesca da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Samylla de Cássia Ibrahim Mol, e a médica veterinária Flávia Quadros Campos Ferreira, especialista em Controle Populacional e Medicina do Coletivo.
Samylla Mol afirmou que é louvável a iniciativa da adoção, desde que seja refletida. “O cão e o gato têm vida longa, 10, 15 anos, não é para pandemia, é para muitos anos”, ensinou. Ao resolver adotar um animal, a pessoa tem que avaliar se tem condições financeiras para garantir a alimentação, os cuidados veterinários e o bem-estar do animal; se terá tempo disponível para se dedicar a ele, por exemplo.
A falta de planejamento é um dos fatores, também, para o abandono de animais. “É comum, na doença, ser abandonado por incompatibilidade financeira, porque a assistência veterinária é muito cara”, reforçou Flávia Ferreira.
Abandono é problema crônico
As duas especialistas lamentaram que o problema do abandono de animais vai além da pandemia do coronavírus; é uma questão crônica em nossa sociedade. Ambas defendem a necessidade da educação ambiental para conscientizar as pessoas sobre as responsabilidades de se ter um animal.
“Precisamos trabalhar envolvendo instituições, poder público, sociedade. A solução passa pela educação, pela guarda responsável e por despertar empatia”, afirmou a coordenadora.
O abrigamento dos animais abandonados foi outro problema discutido pelos participantes. Foi unanimidade que o recolhimento não pode ser tratado como solução, mas apenas um paliativo para minimizar o sofrimento desses animais.
Alertaram, no entanto, que o abrigo inconsequente pode muitas vezes ampliar a dor e até aumentar o contágio pelos adoecidos. O fato é que muitos abrigos atuam de forma precária, sem garantir a segurança e o bem estar para o acolhido.
Deputados lembraram que o resgate é por vezes promovido por protetores, grupos de pessoas ou organizações não governamentais, que passam por dificuldades financeiras para o trabalho. O deputado Carlos Pimenta (PDT) exaltou a dedicação do protetor Saymon, do município de Jequitaí (Norte), que conta com mais de cem animais recolhidos das ruas.
Noraldino Júnior também elogiou o jovem, mas lembrou que se não houver uma ação coordenada e uma política pública destinada, vai chegar um momento que ele também não conseguirá seguir sozinho. “É preciso mudar a visão da sociedade em relação aos animais. Muitos protetores gastam quase todo seu tempo e dinheiro para cuidar da fauna doméstica”.