Há um ano e meio desde o início da atual pandemia, profissionais do teatro estão sem poder subir aos palcos para a realização presencial de espetáculos. Durante esse período de incertezas, muitas pessoas buscam o ambiente virtual para a exibição de seus projetos de artes cênicas como uma maneira de se manterem conectados com o público.
Esse é o caso do Coletivo Bacurinhas de Teatro, que irá apresentar os espetáculos “Calor na Bacurinha”, entre os dias 06 e 08 de agosto, e “Ópera Bruta”, entre 13 e 15 de agosto, em formato online, com transmissão pela plataforma Zoom. Este projeto é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. “O processo de adaptação online é complexo, pois as obras foram pensadas para o presencial. No caso da Ópera Bruta, trabalhamos a “desmontagem” do espetáculo, ao pensarmos seu conceito de outra forma. Por exemplo, na gravação de uma das partes, “A paródia do barbeiro”, utilizamos o camarim do Galpão Cine Horto para compor a cena, que no presencial é composta no palco. Conseguimos pensar em soluções do audiovisual para brincar um pouco com os da câmera. De um lado, perdemos o sentido de estar no presencial, como a interação com o público, mas por outro, ganhamos a possibilidade de potencializar as cenas com a imagem”, diz Michele Sá, uma das integrantes do coletivo.
Em seus quase sete anos de existência, as “Bacurinhas” sempre propuseram reflexões sobre gênero a partir de uma pesquisa contínua e pautada nas críticas das construções sociais normativas e excludentes que padronizam as relações humanas. Dessa forma, as dramaturgias propostas por elas se tornam potentes instrumentos que abrem diferentes perspectivas através da arte.
O primeiro espetáculo a ser exibido, e também primeira obra das Bacurinhas, “Calor na Bacurinha”, apresenta um levante de diversas vozes e modos de ser mulher que re-existem diante da cultura patriarcal. As atrizes em cena questionam os lugares aos quais esta cultura as colocou e ainda coloca as mulheres e parodiam, debocham e ironizam para manifestarem e se posicionarem diante disso. O espetáculo, criado em 2015, e com direção de Marina Viana, é uma manifestação de liberdade de corpos e a celebração do direito ao corpo livre, também protagonista da obra.
Já Ópera Bruta, última criação do Coletivo Bacurinhas, de 2018, direciona a escuta para aquilo que soa masculino nas sociedades. As narrativas sobre o homem e a partir do homem, ‘palavra universal’ no mundo patriarcal, transforma-se em objeto de reflexão numa inversão das normativas e estereótipos que precisam ser incendiados para a liberação de uma infinidade de corpos e masculinidades possíveis, plurais, diversas, atravessadas por múltiplas visões. Na montagem, o que é entendido como ópera, através dos duetos, trios e coros, é constituído pelo o que os homens dizem das coisas, e o desejo é ouvir o que há antes das ‘respostas’ nos espaços de debate. No espetáculo online, o Coletivo transpõe os atos da peça apresentados em momentos gravados e ao vivo.
As Bacurinhas
As Bacurinhas é um coletivo de artistas mulheres de Belo Horizonte que se reuniu para a criação do manifesto artístico performático “Calor na Bacurinha”. Desde então, elas vêm trabalhando incessantemente em novos experimentos artísticos. As Bacurinhas tem como missão primordial a organização e proposição de levantes artísticos liderados por mulheres que tenham como modo de produção os pensamentos feministas, suas políticas e éticas.
“Bacurinhas surgiu com o desejo de transformar em teatro nossas alegrias e agruras relativas a nossa existência como mulher. Nós estamos aí produzindo conteúdo teatral atualizado e responsável com o debate de gênero, trazendo questões que friccionam a estrutura do patriarcado e também o pensamento binário de gênero”, reforça Michelle Sá, atriz, diretora, produtora e arte educadora de teatro e integrante do Coletivo.
O Coletivo Bacurinhas de Teatro é formado por: Ana Cecília, Fernanda Rodrigues, Manu Pessoa e Michelle Sá.
Foto capa: Pablo Campos