Feijão tropeiro, pão de queijo, cafezinho e muitos quitutes. Famosa em todo o país, a culinária mineira agora terá um espaço oficial de reconhecimento do seu valor e importância: o Museu da Cozinha Mineira. Previsto para ser inaugurado em 2024, o espaço será um dos poucos desse tipo no país.
E não é para menos. A “Pesquisa de demanda turística”, divulgada em novembro deste ano pelo Observatório do Turismo, mostrou que 22% dos visitantes que vem ao estado são motivados especificamente pela culinária mineira. Além disso, 27% dos gastos dos turistas são dedicados à gastronomia local.
Gabriela Santoro, diretora-presidenta do Instituto Periférico, entidade responsável pela elaboração conceitual do museu, explica que o espaço terá sua vocação voltada à conservação da culinária mineira, a partir de construção de acervos, pesquisas, formações, eventos, exposições e ações educativas.
A entidade elabora também, junto ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha), um dossiê para solicitação do registro de patrimônio imaterial à culinária mineira.
Milho e mandioca são pilares da comida mineira
Gabriela explica ainda que, com a diversidade multicultural das raízes da gastronomia mineira – afrodescendente, indígena, tropeira etc. –, surgiram dois importantes protagonistas: o milho e a mandioca.
A constatação foi obtida a partir de um levantamento realizado pela entidade para ajudar a direcionar os trabalhos no museu. O estudo apontou que 40% dos pedidos dos municípios mineiros ao ICMS Patrimônio Cultural, programa do Iepha de incentivo à preservação do patrimônio cultural do estado, solicitados entre 2011 e 2021, eram de produtos ou ações relacionadas ao milho e à mandioca.
Minas poderá ser articulador no país
Além de valorizar a culinária do estado, o Museu da Cozinha Mineira também pode ser um importante protagonista na articulação do setor cultural. Isso porque poucas instituições têm a vocação voltada especialmente para a influência da alimentação na vida das pessoas e na identidade dos territórios.
“A nossa ideia é promover um debate sobre a categorização desses museus, porque hoje, dentro da lógica museal, a gente tem algumas categorias, como museu de arte contemporânea, de território, de personagens. Mas não tem estabelecido formalmente uma categoria específica de museus que se relacionam com a cultura alimentar”, explica Gabriela.
A presidenta conta ainda que a entidade tem construído articulações com outras iniciativas do gênero no Brasil e América Latina. “É um projeto muito inovador também nesse sentido. Tem muita possibilidade de a gente fazer bons intercâmbios e boas discussões”, completa.
Sede histórica e estratégica
A sede do Museu da Cozinha Mineira será na Fazendo Boa Esperança, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O casarão é um exemplar da arquitetura rural mineira do final do século 19 e será restaurado pela prefeitura municipal.
Joana Coelho, secretária de Cultura e Turismo de Santa Luzia, afirma que a cidade foi e é importante no fluxo alimentício do estado. A gestora explica que, além das atrações históricas do município, a região é estratégica na rota dos visitantes, pela proximidade com a capital e com o Aeroporto de Confins. “Vai ser um divisor de águas, um atrativo importante demais”, avalia.
A previsão do município é que o espaço do Museu da Cozinha Mineira também seja sede de uma escola social de gastronomia, para incentivar e profissionalizar os trabalhadores de Santa Luzia.