A jornalista, gestora, produtora e ex-secretária de Cultura de Minas Gerais, Eleonora Santa Rosa, levará para o Fórum das Letras de Ouro Preto seu primeiro documentário que celebra um dos poetas e ensaístas mais brilhantes da segunda metade do século XX do Brasil, o mineiro Affonso Ávila.
“Cristina 1300 – Affonso Ávila – Homem ao termo” será exibido nos dias 29/11 (sexta-feira), às 20h e 30/11 (sábado), respectivamente, no anexo do Museu da Inconfidência e na Igreja São Francisco de Assis, às 19h e traz preciosas imagens na casa do Affonso Ávila, em Belo Horizonte, entre 2010 e 2012, e em sua cidade de predileção em Minas, Ouro Preto.
A retirada gratuita dos ingressos será realizada 30 minutos antes das sessões (sujeito à lotação).
Os registros incluem, ainda, leituras do poeta em estúdio e de poemas inéditos.
“Affonso apresenta sua visão poética em suas diversas fases de criação artística, em articulação com animações, recortes fotobiográficos e contrapontos sonoros”, descreve Eleonora Santa Rosa, ressaltando que a ideia principal do documentário é apresentar o poeta por ele mesmo, divulgando o seu legado literário, contemporâneo e singular.
Após a primeira exibição, haverá um bate-papo com a diretora Eleonora Santa Rosa e o artista plástico Carlos Bracher, com a mediação da coordenadora do Fórum das Letras de Ouro Preto, a professora Guiomar de Grammont.
Serão abordados os bastidores, como o convite à atriz Vera Holtz para a leitura de alguns poemas, os desafios do projeto, que começou a ser concebido em 2010 até ser concretizado em 2024.
Uma surpresa especial programada para Ouro Preto acontecerá no sábado, dia 30/11, na Igreja de São Francisco de Assis, onde o filme será exibido.
O documentário
“O documentário é uma lição de resistência, resiliência, persistência e insistência, porque foi desafiador em vários sentidos – desde a sua estruturação diferenciada do padrão usual dos filmes nesse campo, passando por questões de patrocínios, do falecimento do poeta, da complexidade técnica em relação à geração do material, a pandemia e até mesmo da escolha de uma equipe que entendesse e abraçasse os desafios que o material impunha”, revela a diretora, que também é responsável pelo argumento e pela produção executiva.
Na oportunidade, Santa Rosa, Bracher e Grammont também vão comentar a relação afetuosa do poeta com Ouro Preto e sua dedicação à preservação do patrimônio cultural de MG.
“O legado de Affonso Ávila perpassa sua poesia construtivista, experimental, crítica e singular. Ele foi um exímio pesquisador do barroco mineiro, fundou em 1969 a revista ‘Barroco’, e foi responsável pela pesquisa e articulação para a redação e aprovação da Lei nº 5.775, de 30 de setembro de 1971, para a criação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais”, destaca Eleonora Santa Rosa.
Para a diretora, que conviveu com Affonso Ávila por mais de três décadas, profissional e familiarmente, a película tem a missão de difundir para o grande público a trajetória poética singular de Ávila, que detinha um domínio absoluto da língua e da linguagem, com jogos, aliterações, torções, apropriações, montagens, subversões de sentidos e novos significados.
“Affonso Ávila teve uma carreira reconhecida e muito respeitada, mas apesar de ser um dos maiores poetas do país, sua produção continua restrita ao consumo dos seus pares. Senti-me, sobretudo após o seu falecimento, na obrigação de dar tratamento e vazão ao material gravado, inédito, de grande significado para a compreensão de sua trajetória poética”, declara.
Trilha sonora e identidade visual refletem a potência de Ávila
Com a codireção de Marcelo Braga de Freitas, um dos destaques do documentário é a trilha sonora, que funciona como um elemento central e estruturador do filme.
Em diálogo sutil e potente com a poesia de Ávila. Lucas Miranda (oscilloID), jovem compositor de Belo Horizonte, “fez um trabalho extraordinário, delicado e artesanal”, nas palavras de Santa Rosa.
Igualmente relevante é a identidade visual desenvolvida pela Voltz Design (Alessandra Soares e Cláudio Santos Rodrigues), assim como a montagem de Breno Fortes, em trabalho de parceria estreita com a diretora.
Segundo Eleonora, o aspecto visual sempre foi importante na poesia de Affonso. Nesse sentido, ela conta que transpôs o “&”, ícone desenvolvido pelo também poeta e artista gráfico Sebastião Nunes para o belíssimo livro “Cantaria Barroca”, de AA, elemento-chave da publicação, para o documentário.
Esse mesmo ícone, reestilizado, foi utilizado para “unir e ‘atravessar’ todas partes do filme compondo uma partitura contínua dos poemas em suas diversas épocas de criação, conforme aponta o professor do Departamento de Comunicação Social da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, Eduardo de Jesus, que assina o texto de apresentação do filme, presente na plaquete editorial contendo a reprodução tipográfica do poema inédito AFRODÍSIAS, que será presenteada ao público presente.
Resultado
O resultado, segundo ele, “é uma forma híbrida da palavra-imagem que se estabelece entre a força dos impressos, revelando texturas e volumes típicos do papel, e a imagem em movimento. Figuram no filme – como um deleite visual, intrigante e desafiador – as belas passagens entre a imagem filmada dos livros, as imagens em movimento e as animações que nos endereçam ao inventivo universo gráfico que caracterizou alguns dos livros de Affonso. Um traço de absoluta coerência imagética e conceitual entre as passagens do impresso ao documentário, da palavra impressa à palavra filmada”.
A produção do documentário, que conta com a codireção de Marcelo Braga de Freitas, tem o patrocínio da Cemig (Lei Federal de Incentivo à Cultura e da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais) e da Liasa (Lei Federal de Incentivo à Cultura). A distribuição em cinemas tem apoio financeiro do Governo do Estado de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo, através da Lei Paulo Gustavo direcionada pelo Ministério da Cultura – Governo Federal.
Sobre Eleonora Santa Rosa
Jornalista, articulista, gestora e produtora cultural, desempenhou inúmeras funções públicas ao longo de sua reconhecida trajetória profissional.
Foi secretária de Cultura de MG, diretora do Centro de Estudos Históricos e Culturais da Fundação João Pinheiro e diretora executiva do Museu de Arte do Rio – MAR.
Na sua gestão na SEC, implementou programas e instrumentos de estímulo à cultura, destacando-se o Fundo Estadual de Cultura.
Implantou a primeira fase do Circuito Cultural da Praça da Liberdade, criou a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e foi responsável pela idealização e proposição do Memorial de Minas Gerais e do Plug Minas, dentre outros.
Autora dos livros “Interstício”, “Solilóquio” e “cultura!”, atua como consultora na área cultural e palestrante.