A persistente inflação de dois dígitos no Brasil, gerada e mantida pelo atual governo, vitimou as redes de supermercados e os chamados atacarejos em maio, além da população como um todo. O relatório mensal com as informações do mercado produzido pela Radar Scanntech aponta queda de vendas do setor, pressionado pela aceleração do repasse de preços da indústria e consumo alcoólico fora do lar.
“Maio tem aceleração do aumento de preços, gerando impacto negativo nas unidades vendidas, com crescimento apenas em valor nominal”, afirma documento da empresa. “Fica mais nítido o impacto do preço no consumo, sendo o mês com a pior performance em unidades vendidas dos últimos 17 meses.”
Conforme a sondagem, nos últimos três meses o fluxo de clientes nas lojas estabilizou, mas o volume de vendas segue em retração. Em maio, a quantidade de unidades vendidas encolheu mais de 6% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Os supermercados de menor porte são os que apresentaram a menor retração de vendas e também o menor aumento de preços. Isso ocorreu em consequência de um reajuste mais lento de preços da indústria em relação aos demais estabelecimentos.
Mercearia Básica sofreu o maior crescimento em valor, impactado pelo forte aumento de preço. Entre as categorias de melhor performance, 39% vem da Cesta Básica. Bebidas não alcoólicas, Proteínas mais baratas e Categorias de indulgência (supérfluos) são os outros principais pilares de crescimento.
A retração das vendas esteve concentrada em Arroz e Cervejas – devido à volta do público a bares e restaurantes, reduzindo o consumo domésticos. Produtos à base de Farinha de Trigo também aceleraram o repasse de preços e desaceleraram as vendas.
Em evento realizado no último dia 9 pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Jair Bolsonaro pediu que o setor “obtenha o menor lucro possível” em produtos da cesta básica. Durante o Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento, ele reclamou de ser apontado como culpado pela inflação e aumento dos gêneros alimentícios. Guedes chegou a pedir que os supermercadistas congelem os preços até 2023.
Indicadores apontam empobrecimento e endividamento das famílias
Em maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, desacelerou para 0,47% após alta de 1,06% em abril, puxado pela queda do custo da energia elétrica após o fim da bandeira de urgência hídrica. Mas em 12 meses o indicador ainda acumula alta de 11,73%. No ano, os preços ao consumidor subiram em média 4,78%.
Ao mesmo tempo, a precarização das relações trabalhistas e o baixo patamar dos rendimentos ainda são a principal marca do mercado de trabalho brasileiro, como revela a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No trimestre encerrado em abril, o rendimento médio real se manteve 7,9% abaixo do registrado no mesmo período de 2021.
A renda média estagnada próxima ao patamar mais baixo da série histórica se deve à dificuldade de reposição da inflação aos salários, o que corrói o poder de compra dos trabalhadores. E também à abertura de vagas com remunerações mais baixas.
Em abril, apenas 8% das categorias obtiveram resultados acima do INPC, indicador referência para as negociações salariais no país, aponta boletim do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). É a menor proporção de reajustes com ganhos reais em 2022 e a segunda menor proporção nas últimas 15 datas-bases, acima apenas de novembro de 2021.
Enquanto a inflação corrói o poder de compra, a proporção de famílias com dívidas ou contas em atraso no país bateu recorde em maio. Dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostram que 28,7% das famílias estavam inadimplentes, maior percentual desde janeiro de 2010, quando ficou em 29,10%.
Os dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) também apontam que 10,8% dos inadimplentes dizem não ter condições de pagar as dívidas. A proporção de famílias endividadas em maio chegou a 77,4%. Na comparação com maio do ano passado, o percentual cresceu 9,8 pontos percentuais. O número havia chegado a 77,7% em abril, maior nível desde o início da pesquisa, em janeiro de 2010. Em abril de 2021, as famílias com dívida eram 67,5%. Em março deste ano, eram 77,5%.
O percentual de famílias com mais de 50% da renda comprometida com dívidas (22,2%) é o maior registrado desde dezembro de 2017. A pesquisa mostrou também que o comprometimento médio da renda familiar com dívidas chegou a 30,4% em maio, maior percentual desde agosto de 2021. “A dificuldade em honrar as dívidas é influenciada, entre outros fatores, pela inflação ao consumidor, persistente acima dos 12% anuais”, apontou a CNC.