Espetáculo “Cordel do amor sem fim ou a Flor do Chico”, em Ouro Preto

Com músicas tocadas e cantadas ao vivo, a obra traz canções da Música Popular Brasileira.

Peça fala de espera, tempo e amor, e terá única apresentação no Centro de Arte e Convenções da UFOP, neste sábado (23), às 20h, com entrada gratuita.
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O grupo de teatro “Os Geraldos” apresenta em Ouro Preto o seu novo espetáculo, “Cordel do Amor sem Fim – ou A Flor do Chico”. Com dramaturgia de Claudia Barral e direção de Gabriel Villela, a peça conta a história de três irmãs que vivem em Carinhanha, uma cidade do sertão baiano, às margens do Rio São Francisco. A mais nova das moças, às vésperas de seu noivado, apaixona-se por um viajante no porto, um acaso que muda o rumo de todas as personagens dessa história sobre a espera, o tempo e o amor.

A retirada de ingressos será uma hora antes do espetáculo na bilheteria do teatro (sujeito a lotação do espaço). O espetáculo já passou pela 10ª Mostra de Artes Cênicas de Tiradentes e pelo Festival de Teatro de Passos.

O espetáculo começou a ser montado em novembro de 2019 e em março de 2020 estava pronto, mas não pode estrear em virtude da pandemia. Acontecimento que, para Gabriel Villela, teve uma forte ligação com o texto de Cláudia Barral, que fala de espera, o tempo e o amor. “Cordel do Amor sem Fim – ou A Flor do Chico” é um espetáculo criado num momento de muita dor na humanidade. Esperou guardado dentro de malas para estrear quase dois anos depois. Nosso Cordel, que é uma fábula sobre espera e amor, teve que esperar e nos ensinar a nos recolher, a silenciar palcos, ritos e liturgias sociais, em prol de nos proteger coletivamente. Recolhidos em casa, com cenário e figurinos também confinados, tivemos que aprender a inventar modos de nutrir esperança, a não esquecer nunca que somos perecíveis e a perceber, mais do que nunca, que a arte presencial, carnal, de encontro, é uma realidade ilimitada que pode nos salvar. Contra nossa vontade, aprendemos quanto movimento há em esperar, o quão laborioso é enfrentar nossos fantasmas, gozar o tempo. É angustiante, mas saímos existencialmente transformados”, diz o diretor.

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A espera transformada em ação já foi tema dos dramaturgos Samuel Beckett e de Anton Tchekhov, caminho que Cláudia Barral desbrava com desenvoltura própria. “A Cláudia está entre nossos grandes dramaturgos. Uma joia em meio ao lamaçal. Ela cria para si uma estradinha de barro, bem ribeirinha, um barranco brasileiro no Rio São Francisco. Assim, com um lirismo sensível, ela nos presenteia com um cordel pungente, um afago em tempos tão brutais. Na fábula, a eterna espera por um amor prometido, uma promessa tão fugaz que se torna motivo de chacota, deboche e reprovação. Munidos desse texto, o trabalho com Os Geraldos decerto seria singular (jovens e aprendizes ávidos por poesia e esperança). Acreditando na volta do amor prometido, retornamos renitentes: é o amor”, define Gabriel Villela.

“Gabriel Villela nos guiou, para usar uma expressão cunhada por ele mesmo, à camada pré-sal da dramaturgia, investigando significados e simbologias que conduzissem as operações épicas e poéticas da interpretação e do invento de figurinos, adereços, cenário e trilha sonora. Ele é um mago da beleza e, para nós, enquanto grupo, é a concretização de um sonho trabalhar com ele, assim como é uma oportunidade ímpar assisti-lo erguer um espetáculo de forma tão exuberante”, define a atriz Paula Guerreiro, que integra o elenco.

“Cordel do Amor sem Fim – ou A Flor do Chico” reúne artistas que têm em comum o trabalho com o teatro popular: o diretor mineiro Gabriel Villela, com seu universo barroco, musical, colorido e popular; a dramaturga Claudia Barral, nascida em Salvador e inspirada pelas narrativas, poesias e culturas locais do sertão baiano; e o grupo paulista “Os Geraldos”, cuja trajetória, de 14 anos, está pautada na cultura popular. A atriz Paula Guerreiro conta que são mais de trinta pessoas diretamente envolvidas na realização do espetáculo. “É um projeto importante, por democratizar o acesso a uma obra da dramaturga Claudia Barral, em parceria com Os Geraldos e Villela, em cidades para além do circuito tradicional, eixo Rio-São Paulo, e por propiciar uma celebração do teatro popular brasileiro, nesse encontro com a linguagem mineira, barroca e circense de Gabriel, lembrando que o Velho Chico, ao qual a peça faz homenagem, passa no quintal do diretor”, declara.

A equipe formada por Villela para “Cordel do Amor sem Fim – ou A Flor do Chico conta com a cantora e preparadora vocal belo-horizontina Babaya Morais (BH/MG), a cantora lírica e professora de canto italiana Francesca Della Monica, e o músico e paulista Everton Gennari, trabalhando na espacialização e antropologia da voz; o assistente de figurinos e adereços José Rosa, de Caculé (BA), e os assistentes de direção Zé Gui Bueno e Ivan Andrade, de São Paulo.

Os Geraldos

Os Geraldos, como nome indica, pesquisam linguagens que possam aproximar suas realizações desse objetivo: comunicar-se com um público Geral, ou com qualquer “Geraldo”, o que não significa uma simples generalização e pasteurização do público, mas um intento de se conectar com a raiz do teatro popular, um resgate à formação de público. A consideração do público como elemento central na construção de uma linguagem está também na base do primordial teatro grego, mas também das formas variadas da commedia dell’arte e do teatro épico de Bertold Brecht. A difusão, o apresentar o teatro, é para o grupo ao mesmo tempo um objetivo e um ponto de retorno para definição de suas linguagens.

Foto: João Caldas Filho

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