Autor de diversos ensaios fotográficos, livros e exposições fotográficas itinerantes, ele tinha como marca de seus trabalhos as imagens em preto e branco de registros de paisagens, animais e povos dos lugares visitados, em diversos continentes, por décadas.
Além das belezas da natureza, a estética em luz e sombras retratavam a cultura e tradições de povos originários; populações marginalizadas, a dignidade humana; a dor e a resiliência dos povos; as condições de trabalho, o desalojamento em massa de pessoas devido à pobreza, repressão ou guerras.
Sebastião Ribeiro Salgado Júnior nasceu em vila de Conceição do Capim, distrito do município de Aimorés, em Minas Gerais, no Vale do Rio Doce, em 1944. Mas vivia em Paris (FR), desde o fim da década de 1960.
Em 1969, a partir do endurecimento do regime militar, ele e a esposa, Lélia Wanick Salgado, decidiram deixar o Brasil e se exilar na França.
Economista, Sebastião Salgado trabalhou como secretário da Organização Internacional do Café, em Londres, entre 1971 e 1973, antes de retornar a Paris e passar a fotografar profissionalmente para a agência Sygma, em 1974.
Transferiu-se no ano seguinte para a agência Gamma, iniciando a documentação sobre as condições de vida dos camponeses e índios latino-americanos. Esse trabalho o tornaria mundialmente conhecido.
Em 1979, deixou a Gamma pela agência Magnum, que chegou a presidir e onde permaneceu até 1994. No mesmo ano, criou a Amazonas Imagens com sua esposa.
Prêmios
Entre os prêmios internacionais, Sebastião Salgado foi contemplado com o prêmio Eugene Smith (EUA), em 1982.
Também conquistou World Press (Holanda, 1985), o prêmio Oscar Barnack (Alemanha, 1985 e 1992), o prêmio Erna e Victor Hasselblad (Suécia, 1989), e o prêmio de Fotojornalismo do International Center of Photography (EUA, 1990).
Recebeu ainda diversas outras honrarias, sendo representante especial da Unicef e membro honorário da Academia das Artes e Ciências dos Estados Unidos.
É autor dos livros Sahel: L’Homme en détresse (1986); Autres Amériques (1986); An Uncertain Grace (1990); Sebastião Salgado: As Melhores Fotos (1992); In Human Effort (1993); Workers (1993); La main de l’Homme (1993); Terra (1997); Serra Pelada (1999); Outras Américas (1999); Êxodos (2000); O Fim da Pólio (2003); O Berço da Desigualdade (2005) e África (2007).

O filme O Sal da Terra acompanha o célebre fotógrafo e registra algumas de suas viagens.
Em agosto de 2023, a mostra Trabalhadores expôs 150 fotografias de Sebastião Salgado.
Em abril de 2023, 15 quadros produzidos pelo fotógrafo brasileiro, avaliados em quase R$ 1 milhão, foram reincorporados ao patrimônio da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
Sebastião Salgado: o fotógrafo que sobreviveu à guerra, denunciou o mundo e semeou florestas
Economista exilado e salvo por Pelé em Ruanda, ele retratou a dor humana e plantou 3 milhões de árvores
Com a lente apontada para o mundo, ele documentou a dor, a miséria, o trabalho e a vida, sempre guiado por um impulso social e humano.
Foi longe. Atravessou guerras, crises, campos de refugiados e desertos. Viu o que muitos não aguentariam ver. Ao documentar a vida de quem pouco aparecia, Salgado se deparou com situações extremas e não se deixou abater. Seguiu em frente e revelou ao mundo realidades desconhecidas para a grande maioria.
O homem que enxergou o mundo com uma câmera e devolveu à Terra a vida que viu faltar
Durante a cobertura do genocídio de Ruanda, em 1994, foi detido por milicianos tutsis. “Sou brasileiro, do país do Pelé”, disse, quando pensaram que fosse francês. O nome do jogador o salvou.
Antes disso, já havia fotografado a fome no Sahel, nos anos 1980. Chorou. “Larguei a câmera e chorei junto”, admitiu. Deixou o deserto marcado por imagens brutais e por uma cicatriz emocional que o acompanharia por anos.
Em 1991, testemunhou outro cenário apocalíptico: os incêndios nos poços de petróleo do Kuwait, deixados pelas tropas de Saddam Hussein. “Kuwait: Um Deserto em Chamas” reúne as imagens desse desastre não-natural.
Seu trabalho sempre foi além da estética. Fotografava para denunciar. Como no livro “Trabalhadores”, em que revelou a força e a exploração da mão de obra global. Era um olhar afinado com a política e com o sofrimento.
Na ditadura militar brasileira, exilou-se em Paris com Lélia, sua companheira de vida e de criação. Lá, trabalhou na Organização Internacional do Café. Mas logo decidiu trocar a economia pela fotografia. Deixou o ofício, pegou a câmera e passou a registrar o cotidiano de trabalhadores, populações marginalizadas e regiões em crise. Documentou a luz, a lama, o fogo e a verdade.
Sebastião Salgado fotografou o mundo e, quando o mundo o feriu demais, voltou para casa. Em Aimorés, com Lélia, fundou o Instituto Terra. Um projeto de restauração ambiental que replantou mais de 2,5 milhões de árvores.
Mesmo reconhecido internacionalmente, membro da Academia de Belas Artes da França e vencedor do Prêmio Príncipe de Astúrias, foi na terra que pisou quando criança que Salgado plantou o seu legado.
Com sua câmera, deu rosto às crises esquecidas. Com sua vida, provou que é possível resistir.
Fotos: Sebastião Camargo
- Com informações da Abr e RT