Um relatório divulgado nesta quarta-feira (11) pela organização SumOfUs, com sede nos Estados Unidos, aponta que grandes empresas de tecnologia como a Meta e o Google lucraram transmitindo ataques golpistas a prédios públicos de Brasília, no domingo (8).
De acordo com documento elaborado por pesquisadores da entidade, YouTube, Facebook, Twitter, TikTok e Telegram permitiram que conteúdo antidemocrático circulasse na internet antes, durante e depois dos ataques. Parte desse conteúdo chegou a ser recomendado pelas redes sociais e até a ser interrompido para transmissão de anúncios.
Os pesquisadores vasculharam a internet para encontrar informações de cunho antidemocrático. Encontraram um canal de YouTube, do Google, e uma página de Facebook, da Meta, de um golpista que transmitiu a invasão ao Congresso Nacional e outros prédios públicos simultaneamente por horas, nas duas redes sociais.
Dois vídeos produzidos pelo influenciador sobre os ataques estavam disponíveis na segunda-feira (9) à tarde, 24 horas após os atos e mais de 12 horas depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) determinar a remoção de conteúdos antidemocráticos da internet.
Só um desses vídeos teve mais de 1 milhão de visualizações em menos de um dia, de acordo com a SumOfUs. Anúncios foram veiculados nele, permitindo assim que as empresas controladoras das redes ganhassem com a transmissão.
Além desse caso, pesquisadores encontraram:
. Vídeos, posts e mensagens convocando para a tentativa de golpe;
. Transmissões ao vivo com duração de mais de 4 horas sobre os ataques, com milhares de visualizações;
. Mensagens, vídeos e fotos compartilhados exaltando os tumultos;
Dados sobre essas postagens:
. No Facebook, apenas dois posts tiveram mais de 499 mil visualizações, 69 mil curtidas e 9,5 mil comentários;
. No TikTok, quatro vídeos acumularam mais de 3 milhões de visualizações;
. No Instagram, dois vídeos acumularam mais de 71 mil curtidas e milhares de comentários comemorando os ataques;
. O Telegram foi inundado com conteúdo e comentários sobre como participar, planejar e comemorar a invasão. Apenas três postagens acumularam mais de 138 mil visualizações;
Novo Capitólio
De acordo com Flora Rebello Arduini, diretora de campanhas da SumOfUs, parte dos problemas verificados no Brasil nesta semana já haviam ocorrido nos Estados Unidos durante a invasão do Capitólio, em 2021, num outro movimento golpista.
A própria SumOfUS também já havia identificado a disseminação de conteúdos golpistas no Brasil em pesquisas realizadas entre setembro e dezembro de 2022. Segundo a entidade:
. No TikTok, cinco dos oito principais resultados de pesquisa para a palavra-chave “urnas” foram para termos como “urnas manipuladas”;
. Facebook e Instagram direcionaram milhares de usuários que pesquisaram sobre a eleição para grupos que negavam a integridade do voto;
. Facebook estava aprovando ativamente anúncios prejudiciais que semeavam dúvidas nos resultados eleitorais, incluindo anúncios que pediam especificamente um golpe militar. Esses anúncios problemáticos acumularam 615.000 impressões;
. YouTube permitiu que a narrativa “Stop the Steal” se tornasse viral, com vídeos de mais de 22 milhões de visualizações;
“É impressionante que, dois anos após os acontecimentos no Capitólio, nos EUA, estamos vendo exatamente a mesma coisa acontecer no Brasil – e as plataformas das redes sociais ainda não estão fazendo nada. Os legisladores precisam agir agora para responsabilizar as Big Techs, ou todos nós acabaremos pagando o preço”, declarou Arduini.
Empresas respondem
Procurada, a Meta, dona do Facebook, Instagram e Whatsapp, informou que, antes mesmo das eleições, passou a remover conteúdos que incentivam as pessoas a pegar em armas ou a invadir o Congresso, o Palácio do Planalto e outros prédios públicos.
“No domingo, também designamos este ato como um evento violador, o que significa que removeremos conteúdos que apoiam ou exaltam essas ações. Estamos colaborando com as autoridades brasileiras e continuaremos removendo conteúdos que violam nossas políticas”, complementou a empresa.
O TikTok informou que todos os vídeos mencionados no relatório da SumOfUs já foram removidos da plataforma.
O Google, dono do YouTube, não se pronunciou.
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