Governo mineiro diz sofrer restrições legais para não conceder reajuste a servidores da Faop

Assembleia discutiu situação de servidores da FAOP

Profissionais da instituição, que trabalham com a restauração e a conservação de bens artísticos e culturais, pedem melhores salários e valorização da atividade.
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O Governo do Estado alegou restrições impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal para não dar reajustes salariais aos técnicos e professores da Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop).
A justificativa foi apresentada durante audiência pública da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta terça-feira (12), para debater a situação dos servidores da instituição.

De acordo com a assessora chefe de Relações Sindicais da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag), Helga Beatriz Gonçalves de Almeida, a reestruturação de muitas carreiras estaduais é urgente e “não é confortável passar oito anos nessa posição”.

“A lei autoriza apenas a recomposição das perdas inflacionárias. E o Estado não conseguiu fechar o fluxo de caixa de 2022 para fazer o suporte de recomposição neste ano. Não julgamos o mérito da instituição ou o trabalho dos professores. Infelizmente a despesa de pessoal do último quadrimestre já estava no limite máximo para qualquer ampliação”, afirmou.
A servidora de carreira da Seplag explicou também que seria interessante se houvesse a possibilidade de realização de um concurso público para recompor o quadro de profissionais da Faop.

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Um dos autores do requerimento para a realização da reunião, o deputado Leleco Pimentel (PT), vai solicitar o agendamento de visita da comissão à instituição, para verificar a carência de professores da escola de restauros, reduzidos em dois terços desde o último concurso, que já completou dez anos.
“Os anos passam e as respostas não mudam, isso é muito desrespeitoso. É um crime cometido pelo Estado contra os servidores que executam a política pública”, frisou.

Prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo de Araújo Santos reforçou que a Faop não é entidade de Ouro Preto, mas sim do Estado de Minas Gerais.
Ele defendeu que o Estado precisa trabalhar pela valorização da instituição.

Defasagem salarial nos últimos anos é uma das principais queixas do servidores da Faop, que fizeram comparação com rendimentos de servidores da educação no período de 10 anos anteriores.

“Quando eu era secretário de Cultura, sempre me empenhei para que a administração da Faop fosse plenamente estadualizada. Precisamos de empenho para o reconhecimento dela como uma entidade de Estado, com uma política pública permanente dedicada a ela. O curso de restauração tem uma demanda imensa, que buscamos sempre tentar valorizar. Minha expectativa é de que o secretário Leônidas Oliveira conduza com segurança essa questão”, disse.

Comunidade acadêmica destaca problema histórico


Professora de Arte e Restauro da Faop, Janaína Evangelista Lopes da Silva frisou que o salário recebido pelos professores da entidade é o menor salário de professor do País.
Ela destacou que o salário mínimo teve um aumento de 82% em nove anos, mas, no mesmo período, não houve qualquer reajuste no vencimento dos professores e servidores da instituição.

Acadêmicos da Faop durante a reunião na Assembleia Legislativa mineira nesta terça-feira (12) em Belo Horizonte

“Nós, concursados, não temos direito ao básico. Tivemos a invasão do Congresso no começo deste ano e depois vários restauradores, inclusive de Minas, foram prestar serviços, porque um país vive é por meio de seu patrimônio”.

De acordo com ela, arte não é supérfluo e ass futuras gerações precisam e merecem acesso a ela.

“Mas como formar restauradores sem ter acesso ao mínimo?”, indagou.

Professora de Arte e Restauro da Faop, Andreia Pereira de Miranda manifestou tristeza pela desvalorização de seu trabalho.
“Cultura é uma prima pobre da educação. Mas foi a cultura o refúgio no momento da pandemia, para quem buscava acalento em momento de dor”, ressaltou.

O diretor-coordenador do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público do Estado de Minas Gerais (Sindipublicos/MG), Geraldo Antônio Henrique da Conceição, chamou de vergonha a situação de defasagem salarial, que já dura mais de dez anos.

“Esses trabalhadores precisam ser valorizados com, pelo menos, a paridade com os demais professores da educação pública. É uma vergonha que já dura quase dez anos. Estaremos aqui de novo pleiteando a mesma coisa daqui a dez anos? Quando terá fim essa situação?”, questionou.

Representando a Faop, a diretora da Escola de Arte Rodrigo Melo Franco de Andrade, Gabriela Rangel, destacou que as atividades para as quais os estudantes da Faop são formados são delicadas, singulares e abrangentes.

“São formados profissionais que atuam em áreas artísticas, culturais e de restauração e conservação. O pleito dos professores é legítimo. Queremos todo o apoio e possibilidade de solução para valorizar professores, profissionais e o trabalho da instituição. Queremos que esse trabalho seja levado para muitas comunidades espalhadas pelo Estado”, disse.

Um dos requerentes para a realização da reunião, o deputado Professor Cleiton (PV) destacou que a equiparação salarial demandada pela comunidade acadêmica não é “nada absurda”.
“Eles só querem a equiparação salarial. Com o aumento votado na ALMG, temos a possibilidade de pagar o piso proporcional para a educação básica. Também merece destaque o fato de que a gestão dos conservatórios estaduais é da Secretaria de Educação, e os profissionais de lá têm direito a recursos do Fundeb. Podíamos de repente pensar numa saída nesse sentido”, afirmou.

Fotos: Guilherme Begamini

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