Guedes 2020 versus Guedes 1885

Ontem o presidente Bolsonaro sepultou o natimorto Renda Brasil e, de cara, abanou um cartão vermelho diante do ministro da Economia. Guedes, daltônico, viu amarelo no rubro cartão, e tudo fica como dantes.
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Guedes 1885

No tempo de Machado de Assis já houve um Guedes. Vejamos, ipsis litteris, como o escritor, em crônica datada de 19 de julho de 1885, apresenta-nos o Guedes daquele tempo. Para contextualizar, montamos o texto em formato de uma entrevista. Qualquer semelhança é mera coincidência:

Migalhas – Você tem conhecimento do que fez ontem Bolsonaro com o ministro da Economia?

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Machado de Assis – “Conheço um homem que, além de acudir ao doce nome de Guedes, acaba de receber um profundo golpe moral.”

Migalhas – Estamos a falar da mesma pessoa?

Machado de Assis – “Há trinta anos, ou quase, que o Guedes espreita um trimestre de popularidade, um bimestre, um mestre que fosse, para falar a própria linguagem dele. Ultimamente, lá se contentava com uma semana, um dia, e até uma hora, uma só hora de popularidade, de andar falado por salas e esquinas.”

Migalhas – E o que fez o coitado do Guedes em busca da popularidade?

Machado de Assis – “Não se imagina o que este diabo tem feito para ser popular.”

Migalhas – E como ele resolve esse problema?

Machado de Assis – “Se realmente quer popularidade, abra mão de planos complicados.”

Migalhas – E qual seria a fórmula?

Machado de Assis – “A gente não tem remédio senão recorrer à única cultura em que não há concorrência de boa vontade, que é plantar batatas.”

Contexto

O Guedes que menciona Machado de Assis (mandando-o plantar batatas), era um nome genérico para se referir aos patrões do comércio do Rio de Janeiro, os quais eram contra o fechamento do comércio aos domingos e dias santos. A lei determinando o fechamento do comércio, aprovada pela Câmara Municipal, era de autoria do vereador Visconde de Santa Cruz. Em artigo sem assinatura no dia anterior à mencionada crônica, no Diário de Notícias, informa-se que a “classe caixeiral” (dos caixeiros) congratula-se com a Casa de Leis pelo seu procedimento justiceiro e humanitário.

*Extraído de migalhas.com.br

Titulo Redação.

Foto: Eraldo Peres – ASSEJUS e Agência Senado.

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