“Imaginante de Minas, século 20”, no Memorial Vale

Comemoração dos 10 anos do Memorial tem exposição presencial que homenageia Guignard

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O Memorial Vale lança hole (16), às 18 horas, a exposição “Imaginante de Minas, século 20”, que marca o retorno das exposições presenciais e faz parte das comemorações dos seus 10 anos de atividade. Com curadoria de Júlio Martins e Maria Angélica Melendi, foram reunidos mais de 30 artistas para traçar uma visão diversa das experiências em artes visuais desenvolvidas nas terras mineiras ao longo do século 20.
A exposição fica em cartaz até o dia 3 de abril de 2022. O título se inspira em uma série de pinturas de Alberto da Veiga Guignard, marco importante, mas não único da modernidade artística mineira, e aponta para desdobramentos improváveis nas poéticas dos artistas das décadas de 1960 a 1990.

O público poderá ver seis obras de Guignard, três pinturas e três desenhos, e obras de Adalgisa Martins, Amílcar de Castro, Arlindo Daibert, Assis Horta, Beatriz Dantas e Paulo Emílio Lemos, Cao Guimarães, Celso Renato, Farnese de Andrade, Franz Weissmann, Genesco Murta, George Helt, G.T.O., Inimá de Paula, Jeanne Milde, Lorenzato, Lótus Lobo, Manfredo Souzaneto, Marco Sampaio, Marco Paulo Rolla, Marcos Benjamin, Marta Neves, Maria Lira Marques, Mary Vieira, Maurino de Araújo, Raymundo Colares, Renato de Lima, Roberto Vieira, Rosângela Rennó, Solange Pessoa e Zina Aita.

“Esta exposição foi pensada para celebrar os 10 anos do Memorial Minas Gerais Vale. Resgata uma memória da arte mineira do século 20 trazendo luz a obras importantes para o entendimento na nossa história”, observa o gestor do Memorial Vale, Wagner Tameirão.

Imaginante de Minas, século 20

O curador da exposição, Júlio Martins, explica que a intenção foi dar uma visão das artes plásticas do século 20 em Minas Gerais quando se implementa a modernidade em meados do século passado. “Buscamos em nossa curadoria colocar artistas que, de um lado, não têm uma descendência direta com Guignard, pouco estudados e pouco vistos nas narrativas oficiais, e de outro lado artistas que apontam grande inventividade nos seus processos para além daquilo que poderíamos esperar dentro da própria obra do Guignard”, detalha.

Sobre as obras de Guignard escolhidas, Júlio comenta que “é um Guignard surrealista, um Guignard que foi pouco visto, que nos surpreende, e é esse Guignard pouco conhecido que quisemos trazer para a exposição”.

Em fins dos anos 1940, Alberto da Veiga Guignard produziu algumas fotomontagens nas quais reiterava seu interesse pelo surrealismo, abordado em sua produção pictórica anterior à chegada em Belo Horizonte. Escassamente estudadas, essas e outras obras pouco conhecidas de Guignard impulsionaram a busca de outros rumos para além da configuração tradicional da paisagem como território imaginário.

O particípio presente “imaginante”, recolhido de uma série de pinturas intitulada “Paisagem imaginante de Minas”, aponta àquele que imagina, que inventa mundos. “A hipótese curatorial entende que o surrealismo escamoteado do mestre ajudou a diluir outras manifestações, deixou deslizar até o esquecimento alguns relatos, se desentendeu de outros…”, reflete Júlio Martins.

Artistas de várias décadas e gerações foram julgados na medida do seu pertencimento à descendência guignardiana. Grande parte da produção experimental das décadas de 1960 e 1970 pode ser interpretada como alternativa de resistência a essa referência. O mesmo pode-se dizer dos anos 1980 e 1990, quando a internacionalização da arte de Minas promoveu, novamente, a migração de muitos artistas aos grandes centros, como é recorrente em terras mineiras. Há ainda artistas como Zina Aita, Jeanne Milde e Renato de Lima que produziram dentro da esfera do modernismo no estado antes da chegada do mestre.

O que se entende como modernidade em Minas Gerais foi um movimento tardio, tutelado e conciliador. Guignard e Niemeyer são marcos únicos da historiografia oficial. O objetivo desta exposição reside em atravessar os relatos da história da arte mineira com um possível contrarrelato que não segue as trilhas já perseguidas, mas que explora outras, desviantes, abandonadas ou mesmo não percorridas, na hora de estabelecer os caminhos a seguir.

“Pretendemos trazer à luz obras que foram esquecidas nas reservas técnicas por décadas, que foram pouco expostas e muito pouco vistas. A propósito, nestes escuros tempos de pandemia a tarefa foi difícil, com acervos institucionais fechados e tempo escasso para a pesquisa, pelo que consideramos esta exposição um avanço, apenas, de um processo de investigação mais longo e apurado de reescrita das modernidades e não modernidades locais”, conclui a curadora Maria Angélica Melendi.

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