Imprevistos surgem na remontagem do Órgão Arp Schnitger da Catedral de Mariana

Presença de cupins em duas peças fundamentais do Órgão atrasa a sua restauração.

Partes danificadas serão enviadas para a Espanha e componentes de compensado colocados no instrumento serão substituídos por carvalho envelhecido.
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Como parte dos trabalhos de finalização das obras de restauração da Catedral de Nossa Senhora da Assunção, Sé da Arquidiocese de Mariana, teve início em 1º de setembro deste ano a remontagem do Órgão Arp Schnitger. O instrumento, datado do século XVIII, foi fabricado na Alemanha e doado à então Diocese de Mariana em 1748. Contudo, durante esse procedimento alguns imprevistos foram encontrados, comprometendo à continuidade dos trabalhos.
O processo de remontagem foi confiado a empresa Taller de Organería, da Espanha, por meio dos trabalhos de Frederic Desmottes, que há 42 anos realiza a montagem e desmontagem de órgãos, e de sua filha, Olívia Desmottes, que por aproximadamente 20 dias estiveram em Mariana fazendo os procedimentos necessários. Além disso, conta com a supervisão do arquiteto responsável pelas obras de elementos artísticos da Catedral, Artur Coelho, e também dos trabalhos feitos pelo jovem Guilherme.
Com um vasto conhecimento nesse tipo de instrumento e muita experiência na área, Fréderic conta que para a realização desse trabalho a primeira parte foi feita há seis anos e meio com a desmontagem dos tubos de metal presentes no órgão que, posteriormente, foram guardadas no Museu da Música de Mariana.
Já para setembro deste ano, a previsão era que fossem feitos a montagem da peça, a limpeza e a colocação do tubo para afinação do Órgão. Entretanto, durante a limpeza, foi descoberto que as duas peças principais do instrumento, que desempenham papéis como se fossem o motor do órgão, pois levam o ar para os tubos, estavam comprometidas com a presença de cupins. Diante desse imprevisto, o processo de remontagem do órgão necessitou ser revisto.
Imprevisto
Segundo Fréderic, o problema está no someiro, que tem peças de compensado que foram colocadas durante uma restauração ocorrida em 1982. “Uma vez localizado o problema, achamos a solução. A única solução que se pode fazer agora é levar essas duas peças grandes para a Espanha, para a oficina, para tirar todas as partes de compensado e voltar a colocar as partes de carvalho que foram substituídas no ano de 1982. É um trabalho bem delicado, que precisa ter ferramentas especiais, como temos na oficina, e também ter carvalhos bons, que se tenham dez anos de secagem, para garantir o futuro e funcionamento do órgão”, destaca o organeiro.

Pela complexidade do trabalho e cuidado exigidos neste caso e por se tratar de um instrumento histórico e importante, Fréderic explica que o transporte das peças para a Espanha exige alguns cuidados próprios como a autorização Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da contratação de uma empresa especializada no transporte de obra de artes, a fim de garantir a segurança das peças.
De acordo com o Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Assunção, Padre Geraldo Dias Buziani, que acolheu Fréderic e Olivia durante a estadia deles em Mariana, todo o trabalho está sendo acompanhado em todas as questões relacionadas à montagem do Órgão ArpSchnitger. Além disso, a organista da Catedral, Josinéia Godino, e outras instituições também estão se empenhando nesse processo de reforma e de montagem do órgão.
Padre Geraldo Buziani ainda pontua que, como pároco, vai empreender todos os esforços possíveis, juntamente com as instituições parceiras da Arquidiocese de Mariana, para a elaboração do projeto e adquirir recursos necessários para a restauração das peças danificadas. “Vamos fazer o máximo para elaborar o projeto, captar recursos diante das empresas e instituições, para que a gente possa viabilizar o mais rápido possível o envio das peças que estão com problema para a Espanha, e o seu retorno para com isso continuar a prosseguir com o processo de remontagem do órgão da Catedral”, afirma.
Devido a manifestação de cupins nas peças principais do Órgão, a restauração que estava prevista para durar de 20 a 25 dias teve o seu prazo estendido. “Só o processo de restauro das duas partes dos sumeiros são oito semanas, mas vai demorar mais tempo porque temos que preparar as caixas e ter todas as permissões legais para poder mandar. Então, vai demorar eu acho que vários meses”, diz Fréderic.
Enfatizando a necessidade de conservação e zelo com o instrumento, o organeiro ressalta a importância desse instrumento para a Catedral-Basílica de Mariana. “Esse órgão é muito especial, [pois] é único [não somente] em Minas Gerais, mas no Brasil. [É] um órgão fabricado na Alemanha, Burgo, no ano de 1701, e que foi comprado de Portugal para Mariana. É um órgão muito importante porque é único, que não se encontra em outro lugar do mundo um órgão desse tipo fora da Alemanha do norte. E no contexto do Brasil é o instrumento mais antigo que se tem”, detalha Fréderic.
Sobre o Órgão
No ano de 1747, o Órgão Arp Schnitger foi adquirido pelo português Dom João V, que pretendia enviar a peça à Mariana, mas devido ao seu falecido isso não ocorreu naquele ano. No ano de 1748, Dom José I, filho de Dom João V, enviou o instrumento como presente para a Diocese de Mariana.
Foto: Thalia Gonçalves

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