Itália volta a mergulhar na incerteza política com avanço de Salvini e renúncia de premiê

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A crise política italiana, que culminou na renúncia do primeiro-ministro Giuseppe Conte, mantém atual uma famosa frase atribuída ao ditador fascista Benito Mussolini, para quem governar a Itália não era difícil, era simplesmente inútil.

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-45), o país já teve 65 governos, de longe o mais instável da Europa. Agora, em meio à conflagração política e a incertezas econômicas, começará as tratativas para a formação do 66º.

O governo que se encerrou nesta terça-feira (20), uma aliança entre o movimento populista 5 Estrelas, contra o sistema político, e a Liga, partido radical de direita, terminou após 14 meses graças a um de seus integrantes.

O vice-premiê e ministro do Interior, Matteo Salvini, líder da Liga, foi o responsável por apresentar há duas semanas uma moção de desconfiança contra o primeiro-ministro, Giuseppe Conte, abrindo a crise que chegou à renúncia nesta terça-feira.

Era um ineditismo: pela primeira vez na história da República italiana, um partido da maioria apresentava um voto de censura contra o chefe do governo.

Advogado independente, com um ar professoral, Conte assumiu o posto de primeiro-ministro após um acordo entre a Liga e o 5 Estrelas – formalizado em junho de 2018, o contrato de formação da aliança chegou a ser reconhecido em cartório.

Mas desde maio, quando se iniciou uma aberta e cada vez mais aguerrida disputa entre os dois partidos, o fim do governo parecia próximo, apesar da reiterada negativa dos protagonistas.

Reflexos da UE

O combustível da crise foi o resultado das eleições do Parlamento europeu, que consolidou Salvini como o político mais popular da Itália – sua Liga obteve 34% dos votos.

O Movimento 5 Estrelas, que tinha sido o mais votado na eleição nacional de março de 2018, caiu no pleito europeu para 17%, ficando atrás do Partido Democrático, de centro-esquerda e em forte crise de identidade.

Um dos líderes da direita populista em expansão na Europa, o ministro do Interior acabou impondo sua agenda nesses 14 meses.

Contrário à imigração, ele determinou o fechamento dos portos para embarcações que resgatam imigrantes no mar Mediterrâneo e transformou ONGs em inimigas do Estado nos seus discursos.

Como o presidente americano Donald Trump, diz lutar para combater a “invasão de imigrantes”, e a sua agenda parece agradar à maioria dos italianos.

Agressivo com críticos e adversários, especialmente os da esquerda, Salvini também passou a explorar símbolos religiosos em seus eventos políticos – beijando um rosário, por exemplo – e critica frequentemente figuras como o papa Francisco, defensor do acolhimento aos imigrantes, e líderes europeus como a alemã Angela Merkel e o francês Emmanuel Macron.

Oficialmente, Salvini alegou diferenças programáticas com o aliado para detonar a atual crise. A principal delas, explicitada numa votação no Parlamento, diz respeito a um antigo projeto de construção de um trem de alta velocidade entre a cidade italiana de Turim e a francesa Lyon – o 5 Estrelas é contra o projeto.

Mas o real motivo do fim do arranjo político foi declarado pelo próprio líder da Liga ao encaminhar o pedido de rompimento, no dia 8, quando citou outra famosa frase de Mussolini, personagem ainda muito presente no cenário nacional: “Peço aos italianos para me dar plenos poderes”.

*BBC News

Foto: Comunitaitaliana.com / Yara Nardi /Alberto Pizzoli

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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