Uma análise do Ranking de Pessoas Físicas Doadoras nas eleições de 2022 disponibilizado pelo TSE demonstra que há uma grande disparidade entre candidaturas de partidos identificados com a esquerda com os partidos identificados com ideias de direita.
A alta disparidade tende para os partidos de direita: somando as doações dos dez maiores doadores, as candidaturas de esquerda totalizam aproximadamente 14% do total, enquanto as de direita levam cerca de 86%.
Na data em que foi publicada esta matéria, as doações dos dez primeiros colocados do ranking somavam aproximadamente R$ 32 milhões. É uma quantidade expressiva, visto que, entre o 11° maior doador até o 20°, o valor somado não chega a R$ 15 milhões, ou seja, é menos da metade do que doaram os dez no topo da lista.
Dentro deste escopo do top 10, o dinheiro destinado à candidaturas de esquerda soma, aproximadamente, R$ 4,5 milhões; à direita, o montante é de R$ 27,5 milhões.
Dentro da esquerda, os maiores beneficiários
Camilo Santana (PT), atual governador do Ceará, que disputa uma vaga no Senado, é o candidato identificado com um partido de esquerda que recebeu a maior doação de pessoas físicas: R$ 2 milhões.
Ele recebeu esse dinheiro dos irmãos Grendene Bartelle, que ocupam o 2° e o 3° lugares no ranking de doadores, até o momento. Eles também doaram R$ 750 mil reais (cada um) para outro candidato do PT, também do Ceará: Elmano de Freitas da Costa, candidato ao governo daquele estado.
Um elo que pode ligar os doadores aos que receberam é o fato dos irmãos serem empresários do ramo calçadista (entre outros). O estado do Ceará é um dos polos de produção do ramo, concentrando diversas fábricas da família Grendene. Segundo o Diário do Nordeste, os irmãos registraram receita líquida de R$ 671 milhões.
Ainda entre os dez maiores doadores, além dos candidatos cearenses já citadas, os demais candidatos de esquerda somam, aproximadamente, apenas R$ 1 milhão.
Candidaturas de direita concentram maior parte das doações
Atualmente, o maior doador individual para candidaturas é Rubens Ometto Silveira Mello, que já dispôs de R$ 7,3 milhões. Empresário do ramo do açucareiro e do etanol, ele é um dos dez maiores bilionários do país, segundo a revista Forbes. A maior parte da sua doação foi para o diretório nacional do PSD (R$2 milhões) e do Republicanos (R$ 1,5 milhão).
Em segundo lugar, o gaúcho Alexandre Grendene Bartelle, que realizou a segunda maior doação individual para um candidato no país: concorrente ao governo do estado do RS, Roberto Argenta (que já é o candidato mais rico do país) recebeu R$ 1,9 milhão. Além disso, Argenta recebeu R$ 2,6 milhões de Heitor Vanderlei Linden, o 6° colocado no ranking de maiores doadores. Dessa forma, Argenta é o maior beneficiário de doações de pessoas físicas.
Ocupando a terceira posição no ranking dos doadores, uma dobradinha familiar, já citada: Pedro Grendene Bartelle, que doou R$3,26 milhões. Os irmãos empresários do ramo calçadista doaram, juntos, mais de R$ 8 milhões.
Outro destaque vai para o quarto lugar da lista, José Salim Mattar Junior, ex-secretário de Desestatização do governo Bolsonaro e presidente da locadora de carros Localiza, que doou mais de R$ 3,2 milhões. Grande parte desse valor (mais de R$ 2 milhões) foi para candidatos do partido Novo.
Por sua vez Candido Botelho Bracher, o 7° lugar no ranking, dispôs R$ 2,3 milhões, para 31 candidatos diferentes. Em sua maioria, candidatos de partidos de direita, porém, com algumas exceções, para candidatos do PSB: o mais conhecido deles é Marcelo Freixo, candidato ao executivo carioca, que recebeu R$ 100 mil. Além deste, o ex-presidente do Itaú disponibilizou R$ 50 mil para Jorge Ney, candidato do PT ao governo do Acre.
Outro doador que chama a atenção é o 9° lugar no ranking, Pedro de Godoy Bueno, empresário do setor de saúde. É doador para várias candidaturas indígenas propostas por partidos de esquerda, em sua maioria da Rede Sustentabilidade, mas também do PSOL e do PDT. Além disso, também apoia candidaturas do partido Novo e do União Brasil.