
Durante visita a Mariana (MG) nesta quinta-feira (12), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou um conjunto de medidas voltadas à reparação social, econômica e estrutural nos municípios afetados pelo desastre de 2015, provocado pelo rompimento da barragem da Samarco em Bento Rodrigues. Em evento realizado na Praça da Sé, foi assinado o Protocolo de Intenções para a criação do Hospital Universitário de Mariana, em parceria com a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e a Prefeitura. A cerimônia também marcou o anúncio de um novo pacote social e a formalização de avanços no Acordo Rio Doce.

Com investimento previsto de R$ 200 milhões, o hospital será referência em média e alta complexidade, com centro cirúrgico, unidades de terapia intensiva e serviços especializados em cardiologia, neurologia e cirurgia vascular. O terreno será doado pela prefeitura, e a unidade deverá empregar cerca de 600 profissionais da saúde. O prefeito Juliano Duarte (PSB) sugeriu que o hospital leve o nome de Dom Luciano Mendes de Almeida, ex-arcebispo de Mariana falecido em 2006, a quem Lula prestou homenagem durante o evento.
Além da implantação do hospital, o presidente anunciou medidas sociais voltadas a famílias de baixa renda e trabalhadores informais. Entre os destaques, estão linhas de crédito para reforma de moradias, distribuição gratuita de gás de cozinha a famílias cadastradas no CadÚnico, e programas de financiamento para motoboys e entregadores por aplicativo. Lula criticou a diferença entre o valor do gás praticado pela Petrobras e o preço final pago pelos consumidores. “Alguém está ganhando no meio do caminho, e nós vamos mudar isso com uma política justa de gás”, afirmou.

Outra iniciativa de impacto é o Programa de Transferência de Renda (PTR), que prevê o repasse de 1,5 salário mínimo por 36 meses — seguido de 1 salário mínimo por mais 12 meses — para cerca de 37 mil famílias de agricultores e pescadores atingidos pela tragédia. Os primeiros pagamentos estão previstos para julho de 2025, e o programa terá aporte total de R$ 3,7 bilhões até 2029.
Durante o evento, Lula também celebrou o destravamento das negociações do novo Acordo Rio Doce, paralisadas havia oito anos. O acordo prevê R$ 132 bilhões em investimentos, sendo R$ 100 bilhões da União e dos entes federados e R$ 32 bilhões das mineradoras responsáveis pela tragédia. Parte desses recursos será destinada a ações em saúde, educação e juventude, como os R$ 167 milhões para atendimento em quatro municípios (Mariana, Ouro Preto, Barra Longa e Rio Doce), R$ 45 milhões para 15 Centros de Formação da Juventude e R$ 81 milhões para aquisição de kits escolares resilientes.
Apesar da solenidade institucional, o clima do evento foi marcado por tensão política. O prefeito Juliano Duarte foi vaiado por parte do público ao iniciar seu discurso. Lula interveio em defesa do gestor, pedindo respeito: “Hoje é um dia histórico. Quando começar a campanha, façam sua parte. Mas hoje ele é nosso convidado, e não é correto um presidente convidar uma autoridade para ser hostilizada.”

Em meio à insatisfação popular com o governo estadual, manifestada por gritos de “Fora Zema” vindos da plateia, Lula também antecipou apoio a Rodrigo Pacheco (PSD) como possível candidato ao Palácio Tiradentes em 2026. “Futuro governador, imagine: a Petrobras vende o gás a R$ 37 e ele chega a R$ 140 ao consumidor. Nós vamos mudar essa realidade com política”, disse o presidente, dirigindo-se ao presidente do Senado.

Além de Lula e Pacheco, estiveram presentes o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, o reitor da UFOP, Luciano Campos, e lideranças locais. Ao encerrar seu discurso, o prefeito Juliano reforçou o simbolismo da visita presidencial: “Nenhum presidente havia retornado a Mariana desde o crime. Hoje celebramos uma reconstrução coletiva.”