O Dia Mundial da Água é anualmente comemorado em 22 de março. Mesmo sendo fundamental para a manutenção da vida, diversas atividades, desenvolvidas principalmente por grandes empresas, colocam em risco a segurança hídrica de comunidades inteiras. Em Minas Gerais, a mineração merece destaque, por seu potencial poluidor e degradador das águas.
Na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), onde existe o maior adensamento populacional do estado, a insegurança hídrica é uma ameaça constante, devido aos interesses de mineradoras.
As empresas buscam, por exemplo, explorar a área da Serra do Curral que, além de ser conhecida como o cartão postal da capital mineira, é responsável pelo abastecimento hídrico de 40% da RMBH.
“Onde há mineração, nós temos conflitos de água. A RMBH é um dos casos mais alarmantes. O Rio Paraopeba já foi destruído e existem vários projetos de mineração que vão prejudicar a oferta de água e contaminar ainda mais os cursos da água no Rio das Velhas”, explica Luiz Paulo Siqueira, da direção nacional do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM).
Ele alerta que, além da RMBH, os riscos estão espalhados por todas as regiões do estado.
“É o que acontece na Zona da Mata ou no Leste de Minas, com a Serra do Brigadeiro e a Serra do Caparaó, que sofrem com a ameaça da ampliação da mineração de bauxita, que prejudica a água de diversas comunidades rurais dependentes da agricultura familiar. Isso se repete nos vales do Jequitinhonha e Mucuri, além do Norte de Minas, com a mineração do lítio e do ferro, e por aí vai”, explica Luiz Paulo.
Destrói, consome e polui
Moradora do município de Mariana, onde uma das barragens da Vale rompeu em 2015, Letícia Oliveira, que também é da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), explica como a atuação das mineradoras impacta as comunidades.
Ela comenta que as empresas colocam em risco a segurança hídrica destruindo a região onde a água é armazenada, consumindo água, para o processamento e escoamento do minério extraído e poluindo as fontes hídricas.
“O acesso a água para as comunidades que estão próximas às regiões mineradas é muito prejudicado. No município de Mariana, a comunidade de Bento Rodrigues já sofria com contaminação de água pela Samarco antes mesmo do rompimento da barragem de Fundão. No distrito de Santa Rita Durão, a população sofre até hoje com a contaminação e falta de água”, relata Letícia.
Modelo falido
Para Jeanine Oliveira, do Projeto Manuelzão, iniciativa vinculada à Universidade Federal de Minas Gerais, é preciso superar esse modelo, que coloca em risco a natureza e a vida da população. Além disso, ela enfatiza a necessidade de construir uma política mais contundente de fiscalização da atividade das mineradoras.
“A gente tem no Brasil e em Minas Gerais um modelo minerário que pouco avançou do ponto de vista técnico. Basicamente, a mineração praticada atualmente é a mesma de 300 anos atrás, porém em uma escala muito maior. O modelo de barramentos mata vidas e o próprio ecossistema”, avalia Jeanine.
“A gente diz que uma atividade é boa, quando promove alguma ação positiva no território. Para isso, ela precisa ser ambientalmente correta, socialmente aceita e economicamente viável. E, o atual modelo de mineração não leva nenhuma dessas três questões em consideração”, complementa.
Para avançar, é preciso soberania
Para superar esse cenário, Luiz Paulo Siqueira destaca a importância da participação popular, para que os moradores das comunidades tenham o direito de decidir sobre o que vai ser feito com os bens minerais presentes em Minas Gerais.
“As comunidades precisam ter o direito de dizer sobre os seus destinos. Não é porque uma região tem uma jazida mineral que significa que ela tem ‘vocação’ para a atividade minerária. É necessário a gente impor limites e restrições ao avanço da mineração, demarcando e ampliando áreas livres de mineração, para garantir a qualidade de vida das comunidades e a proteção das nossas águas”, conclui o dirigente do MAM.