Ministro francês: Acordo UE-Mercosul “só será ratificado se Brasil respeitar seus compromissos” sobre desmatamento

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Quatro dias depois da assinatura do acordo entre a União Europeia e o Mercosul, o ministro francês do Meio Ambiente, François de Rugy, afirmou nesta terça-feira (2) que o tratado “só será ratificado se o Brasil respeitar os seus compromissos”, especialmente em relação à luta contra o desmatamento da Amazônia.

Mais cedo, a porta-voz do governo francês indicou que “a França não está pronta para ratificar” o compromisso.

“A nova Comissão Europeia e sobretudo  o Parlamento Europeu irão analisar minuciosamente esse acordo antes de ratificá-lo”, afirmou François de Rugy  “É preciso lembrar a todos os países, entre eles o Brasil, de suas obrigações. Quando assinamos o Acordo de Paris colocamos em prática uma política que permite atingir objetivos de redução de emissão de gases de efeito estufa e de proteção da Floresta Amazônica”.

Ministro de meio ambiente da França, Francois de Rugy fez duras críticas ao acordo e foi seguido por vários ministros franceses.

Já a porta-voz do governo francês, Sibeth Ndiaye, declarou que o texto precisa ser “analisado detalhadamente”. Segundo ela, a exemplo do acordo de livre comércio assinado entre a UE e o Canadá, a França exigirá “garantias” aos países do Mercosul.

No momento, a França “não está pronta para ratificar” o acordo, salientou Ndiaye. O acordo irritou especialmente os produtores de carne franceses, que temem os efeitos da entrada de produtos latino-americanos mais baratos no mercado europeu. Além deles, os ecologistas também estão inconformados, por criticarem a política ambiental do Brasil sobre o uso de agrotóxicos e o desmatamento.

Agricultores europeus rejeitam acordo

A agricultura sempre foi a principal barreira para o avanço do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. A assinatura do tratado  é vista como uma derrota para certas entidades agrícolas europeias, em especial às ligadas à pecuária, que prometem não baixar os braços e pressionar para que o Parlamento rejeite o texto.

A nova legislatura, eleita em maio, dá mais espaço para partidos nacionalistas e ecologistas, os mais contrários à adoção do tratado. Os novos deputados europeus assumem o cargo em outubro.

A reação mais forte promete vir da França, maior potência agrícola europeia e onde o acordo coloca o presidente Emmanuel Macron em uma saia justa. Após a notícia, o líder francês recebeu uma enxurrada de críticas do setor, com o qual o presidente já possuía uma relação tensa.

Europa vai reagir contra o acordo, diz Dominique Langlois,

Dominique Langlois, presidente da Interbev (Associação Nacional Interprofissional do Gado e das Carnes da França), classificou o texto como um “golpe baixo” e anuncia que a reação dos agricultores já começou. “França, Alemanha, Itália, Irlanda: há vários países mobilizados. Organizações e personalidades europeias vão tentar obter o apoio de um máximo de países e de partidos para conseguirmos uma maioria que possa agir em conjunto”, afirmou.

Concorrência desleal

Há anos, o setor denuncia uma concorrência desleal com os latino-americanos: as normas de produção são menos rígidas do ponto de vista ambiental e o custo do trabalho é inferior nos países do Mercosul. 

 “Para nós, a carne bovina deve ser classificada como produto sensível porque não precisamos de todo esse volume entrando aqui. Além disso, não podemos aceitar carnes de países que não respeitam exatamente as nossas normas ambientais, sanitárias e de bem-estar animal. Sabemos que não é o caso do Mercosul e temos provas disso”, sublinha o dirigente. “Usam farinhas animais, antibióticos para ativar o crescimento e utilizam 171 moléculas de agrotóxicos proibidas na Europa, que são encontradas na alimentação dos animais.”

*com informações da Rádio France

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