“Não quero que os cocaienses se curvem a ninguém”, afirma Décio

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Barão de Cocais recebeu, nesta segunda-feira (27), mais um debate público para discussões em torno do risco iminente de rompimento da barragem Sul Superior, de propriedade da Vale, localizada em Gongo Soco.

O encontro realizado no plenário da Câmara Municipal,  reuniu, além do prefeito Décio dos Santos, deputados federais da CPI de Brumadinho, responsável pelos trabalhos de investigação sobre a situação das barragens da Vale no Estado, funcionários da mineradora e vereadores.

Reunião desta segunda-feira foi de cobranças e críticas à Vale

A audiência contou ainda com a participação de lideranças religiosas e comunitárias, representantes de empresas, entidades e associações, moradores das comunidades evacuadas e residentes de cidades vizinhas.

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 Entre os objetivos da reunião, esteve a apresentação de pedidos e providências a serem tomadas, por parte da empresa, sobre os riscos iminentes que afetam milhares de pessoas desde 08 de fevereiro deste ano.

Cocaienses não se curvarão, destacou prefeito Décio Santos durante reunião com entidades, comunidade e deputados, na Câmara de Barão de Cocais.

Várias das demandas apresentadas pela população foram transformadas em requerimento e serão levadas pelos deputados para Brasília, afim de serem apreciadas pela CPI e repassadas à Vale.

  O prefeito Décio dos Santos demonstrou sua indignação pelo abandono do Governo do Estado e Federal junto ao município e pela demora nas respostas da Vale. “Estamos num momento de total abandono,  tanto pelo governo federal, quanto pelo governador do Estado, Romeu Zema. Já tentamos de tudo para que se manifestem e demonstrem seu apoio a nossa cidade.

“Não quero nunca que os cocaienses se curvem, perante a ninguém. Por isso, preferi eu ter essa atitude, demonstrar o quanto estamos sozinhos, ansiando por ajuda, apoio e ações concretas, em virtude do que estamos sendo obrigados a enfrentar”, desabafou o chefe do Executivo.

Durante o final de semana, os moradores tentaram esquecer um pouco a tragédia anunciada. Na noite de sexta-feira (24) centenas deles estavam na praça principal da cidade, como de costume, para curtir músicas, salgados e bebidas.

Na tarde de domingo, data máxima prevista pelas autoridades para a queda de taludes na barragem da mina de Gongo Soco, o clima era de ruas vazias e aumento da ansiedade de moradores:

Praça vazia na tarde de domingo (26) em Barão de Cocais. Paralisação de atendimentos em agências bancárias foi criticada por moradores e comerciantes, Situação foi normalizada ontem. Foto: Mundo dos Inconfidentes

“Só durmo de roupa, pronta para sair correndo”, disse Bruna, de 26 anos, moradora de área a ser danificada pela lama, caso haja o rompimento.

Outra, que não quis identificar-se declarou que só consegue dormir durante o dia: “ Inverti tudo. Cochilo à noite na espera. É angustiante”.

Todos os moradores ouvidos relataram danos à saúde em si próprios, em familiares e amigos.

Outra reclamação é quanto á cobertura da imprensa e seus alardes: “Dá Ibope, mas eles parecem não se preocupar conosco”, afirmou outro morador.

Aparente tranquilidade de ruas vazias neste domingo não esconde os dramas e aflições dos moradores,. Danos à saúde são relatados por muitos. Foto: Mundo dos Inconfidentes

A maioria dos ouvidos pela reportagem criticou a falta de ações da Vale desde o fechamento da Minas de Gongo Soco, devido sua exaustão. Eles denunciam que nada foi feito, nenhuma ação de descomissionamento  da barragem foi realizado desde 2016 e mesmo agora, com o episódio de Brumadinho, a empresa ficou muda e sem resposta adequada e confiável aos moradores.

As mudanças nas informações sobre os deslocamentos dos taludes também geram críticas: ” não sei em quem acreditar”, disse um morador à reportagem.

Além disso, paira na cidade a desconfiança de que a empresa omite informações relevantes sobre a área de Gongo Soco, especialmente na região do Socorro, onde vários moradores insistem em afirmar que existe lá um rico veio de ouro.

Com os episódios revelados recentemente, nos quais a Vale escondeu da Justiça a informação sobre a existência de jazidas minerais nas áreas inundadas de Brumadinho, cresce na população a sensação de que a empresa também sonega informações sobre o tema em Barão de Cocais.

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