Pandemia diminuiu de 35 para apenas duas guardas participantes na 12ª Festa do Reinado

Conhecida também como A Fé Que Canta e Dança, a celebração do Reinado de Santa Efigênia, Nossa Senhora Rosário e São Benedito é patrimônio imaterial de Ouro Preto. Comemorações terminaram neste domingo. Foto: Neno Vianna
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A festa, que reuniu 35 guardas no ano passado, este ano contou apenas com as duas guardas do Congo e de Moçambique de Ouro Preto, além da presença simbólica do Congado do Rosário e Nossa Senhora das Graças (APAE). Em um ano atípico, com restrições às aglomerações, a festa foi realizada de forma diferente, com lives, exibição de filmes, lançamento de camisetas e oficinas com público reduzido.

As celebrações se iniciaram no dia 03, com o pedido de benção na escadaria da Igreja de Santa Efigênia, e à noite com o levantamento das bandeiras de festa na Capela do Padre Faria. Na sexta-feira, 08 de janeiro, dois artistas ministraram oficinas na Casa de Cultura Negra, para o público congadeiros e seus capitães de guarda.

A primeira, às 15h, foi a oficina “Toca de tambores e gingas”, realizada pelo Maurício Tizumba, que é um multiinstrumentista, cantor, compositor, ator, diretor musical e capitão de congado. Durante o encontro, Tizumba contou um pouco da sua história, da infância no terreiro, e como estava alegre por retornar à cidade após 10 anos e ver a festa do Reinado. “Feliz por estar aqui com esse reinado fortalecido, revitalizado e com uma juventude muito grande. Isso é fundamental para a gente nos dias de hoje. São jovens com muita vontade de fazer as coisas acontecerem, de fé, que têm o link nas coisas do Rosário e também nos orixás da nossa ancestralidade”.

Tizumba ainda comentou que “o crescimento do reinado em Ouro Preto foi uma vitória política, de tomada de consciência. Um resgate de inteligência. Há 300 anos nossa fé resiste dançando, cantando e tocando”.

Às 17h, quem fez o encontro foi o Sérgio Pererê, cantor, compositor, percussionista e ator. “Fui convidado a dar essa oficina, que será mais uma vivência, pois estou lidando com capitães do reinado. Acredito que quem mais vai ganhar com essa história será eu”, enalteceu ao falar para os capitães. Sérgio costuma trazer elementos do Bantu presentes em Minas e no Brasil, trabalhando a africanidade que existe na música brasileira.

Ele ainda relembrou um show que fez na Casa da Ópera há um ano ressaltando a alegria de estar em Ouro Preto. “Esse momento hoje é como uma brasinha na esperança que essa coisa toda vai acabar, a vacina vai chegar, a gente vai poder fazer as nossas festas e cantorias”, finalizou Sérgio.


Devido à pandemia, muitos grupos não puderam estar presentes para evitar aglomerações e por ter integrantes do grupo de risco. A Guarda da APAE, existente na cidade há 18 anos, foi uma delas. A Capitã do Congado do Rosário e Nossa Senhora das Graças, Silvana Aparecida, disse que foi maravilhoso participar, mas que foi também triste por não poder trazer o grupo todo. “Não podemos deixar o elo de louvor ao Rosário quebrar, então, como família, não podíamos deixar de estar com o Reinado. Que Nossa Senhora do Rosário interceda a Deus para que a vacina chegue e que possamos no próximo ano, estar louvando o Rosário do nosso jeito, com todo mundo junto, batendo nossas caixas com nossos cantos, cada um no seu grupo. Vai ser lindo demais participar”, finalizou Silvana.
O Capitão da Guarda de Moçambique, Kedison Guimarães, falou sobre a importância da história do Reinado, dizendo que “ser reinaria não é simplesmente festejar, sair tocando na rua, é viver e trazer o que nossa ancestralidade deixou para gente”, concluiu.


As celebrações terminaram no último domingo, 10 de janeiro, com a alvorada às 5h com toque dos sinos e às 7h e 15h a missa na Capela do Padre Faria, restrita ao público.

Foto: Ane Souz

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