O principal desafio para o mundo deixar para trás a pandemia de covid-19 é a desigualdade. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 83% dos africanos não receberam sequer a primeira dose de uma das vacinas disponíveis. Desse modo, a média global chega a um terço das pessoas sem contato com os imunizantes. A situação fragiliza o controle da pandemia e deixa janelas abertas para novas mutações do coronavírus; algumas delas possivelmente mais virulentas e agressivas.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, vem tecendo duras críticas à desigualdade vacinal. Isso porque, desde as primeiras doses, o privilégio do acesso coube aos países mais ricos. Ele classifica a desigualdade vacinal como “chocante”. “Isso não é aceitável para mim e não deve ser aceitável para ninguém. Se os ricos do mundo estão desfrutando dos benefícios da alta cobertura vacinal, por que os pobres não podem desfrutar também? Algumas vidas valem mais do que outras?”, questionou.
A covid-19 já matou mais de 6 milhões de pessoas em todo o mundo e infectou cerca de 485 milhões, sem contar a ampla subnotificação. A iniciativa Covax Facility, liderada pela OMS, não alcançou seu objetivo, que era de vacinar 2 bilhões de pessoas ainda em 2021. Este número ficou em cerca de 905 milhões, portanto, abaixo da metade da meta. Contudo, existem problemas de logística em países mais vulneráveis. É o caso do Sudão do Sul, que recebeu 1,1 milhão de doses via OMS e, após um ano, aplicou pouco mais da metade; 584 mil.
Tedros lembrou que o esforço deve ser concentrado em vacinar pelo menos 70% da população de todos os países, respeitando a prioridade dos profissionais de saúde, idosos e demais grupos de risco. Além disso, o diretor-geral reafirmou a necessidade de outras medidas para o fim mais breve o possível da pandemia. De fato, a OMS traçou planos estratégicos para decretar a o fim da situação de emergência.
“Temos todas as ferramentas necessárias para controlar essa pandemia: podemos impedir a transmissão com máscaras, distanciamento, higiene das mãos e ventilação. Então, também podemos salvar vidas garantindo que todos tenham acesso a testes, tratamentos e vacinas”, disse.