Entre as reações de chefes de Estado na América Latina diante da deflagração do ataque militar russo à Ucrânia, na madrugada desta quinta-feira (24), a do presidente Jair Bolsonaro (PL) foi das mais singulares.
O silêncio do mandatário brasileiro foi acompanhado da atuação de bolsonaristas nas redes sociais tentando desmentir a frase “Somos solidários à Rússia”, emitida em seu encontro recente com o presidente russo Vladimir Putin, em Moscou.
Sem tocar no assunto, Bolsonaro foi para São José do Rio Preto (SP) inaugurar uma travessia urbana. Lá, fez um discurso de 20 minutos sobre outros temas.
No final da manhã desta quinta (24) o Itamaraty soltou uma nota anunciando que “acompanha com grave preocupação a deflagração de operações militares” e que “apela à suspensão imediata das hostilidades e ao início de negociações conducentes a uma solução diplomática para a questão”.
Com exceção de Venezuela, Nicarágua e Cuba, o tom dos pronunciamentos de líderes latino-americanos foi de condenação dos ataques militares russos em território ucraniano e pela resolução diplomática dos conflitos.
Confira o que disseram:
Argentina, Uruguai e Chile
O governo argentino de Alberto Fernández emitiu um comunicado em que “lamenta a escalada da situação”, pede à Rússia que cesse as ações militares e anuncia um “firme rechaço ao uso da força armada”.
Já Lacalle Pou, mandatário uruguaio, postou em sua rede social que o “Uruguai é um país que sempre aposta pela paz. Rechaçamos as ações contrárias ao direito internacional e aos princípios da ONU [Organização das Nações Unidas]”.
Igualmente se posicionando por meio das redes sociais, o presidente chileno eleito, Gabriel Boric, criticou a deflagração da guerra, se solidarizou com as vítimas e afirmou que “o Chile condena a violação de soberania da Ucrânia e o uso ilegítimo da força”.
Equador e Paraguai
Também reafirmando que seguirá a linha definida pela ONU, o presidente do Equador, Guillermo Lasso, declarou em coletiva de imprensa que considera “estranho” que uma crise com essas características esteja acontecendo em pleno século 21. “Equador sempre apostará pela paz e o respeito ao multilateralismo”, disse.
Já a posição do Paraguai, presidido por Mario Abdo Benítez, se fez conhecer pelo ministro de Relações Exteriores, Euclides Acevedo. Em entrevista, o chanceler disse que o governo defende o cessar fogo e que está recolhendo informações mais precisas sobre a guerra.
De forma um tanto dúbia, Acevedo informou que o Paraguai é favorável ao diálogo para a solução dos conflitos e está alinhado aos princípios das Nações Unidas. Mas que “vale dizer que de alguma maneira esta é uma invasão sutil, um ataque anunciado há bastante tempo. Temos de entender historicamente o contexto e o poderio econômico-energético da Ucrânia”.
Segundo o chanceler paraguaio, o país está trabalhando na elaboração de um comunicado do Mercosul sobre o tema.
México e Colômbia
“Não aceitamos que um país invada outro”. A declaração foi de Andrés Manuel López Obrador, presidente mexicano. “Somos partidários da política de não intervenção, da autodeterminação dos povos”, destacou Obrador em coletiva de imprensa feita no Palácio Nacional do país.
Pelo Twitter, o presidente da Colômbia Iván Duque postou um pronunciamento em que classifica a operação de guerra como um “ataque premeditado e injustificado realizado contra o povo ucraniano por parte da Rússia”.
Para Duque, a crise não só atenta contra a soberania da Ucrânia, como “também ameaça a paz mundial”.
Venezuela, Nicarágua e Cuba
Pouco depois de Putin reconhecer a independência das regiões separatistas da Ucrânia no território de Donbass, nesta quinta-feira (24), o presidente Nicolás Maduro fez um pronunciamento na TV Venezuelana.
“A Venezuela está com Putin, está com a Rússia, está com as causas corajosas e justas do mundo, e vamos nos aliar cada vez mais”, anunciou.
“O mundo pensa que Putin vai ficar parado sem fazer nada, sem tomar as medidas para proteger seu povo?”, questionou o presidente venezuelano.
À frente da Nicarágua, Daniel Ortega declarou que a Rússia “está simplesmente se defendendo”. O presidente nicaraguense disse que “a Ucrânia está procurando uma maneira de entrar na OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte] e entrar na OTAN é dizer ‘vamos à guerra com a Rússia’”.
A posição externada por Cuba, liderada por Miguel Diaz Canal Bermudes, não defendeu Putin. Sem mencionar a investida militar russa, o comunicado do governo cubano criticou com veemência os Estados Unidos por impor “a expansão progressiva da OTAN em direção às fronteiras da Federação Russa”.
Citando que o governo estadunidense está “manipulando a comunidade internacional” a respeito dos perigos da invasão da Ucrânia, a nota de Cuba salienta que os EUA “forneceram armas e tecnologia militar, enviaram tropas para vários países da região, aplicaram sanções unilaterais e injustas e ameaçaram com outras represálias”.