Campanha Solidária Natal Literário do Movimento Negro de Mariana

Entrevista com a Comissão Organizadora da Campanha e informações sobre como contribuir

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O Movimento Negro de Mariana está organizando a primeira Campanha Solidária Natal Literário, com o intuito de arrecadar livros de Literatura Negra Infantojuvenil para o centro de convivência Casa Estrela Mariana, instituição que realiza ações educativas com as crianças e adolescentes marianenses que se encontram em situação de vulnerabilidade. Para adquirir as obras, está sendo realizada uma “Vaquinha Virtual”, onde o valor desejado pode ser doado através da chave Pix: movimentonegromariana@gmail.com, em nome de Adelina Malvina Barbosa Nunes, do banco Nubank. Para esclarecer maiores questões a respeito da iniciativa, conversamos com a Comissão Organizadora da Campanha, representada pela integrante do Movimento Negro de Mariana, Adelina Nunes. 

1-Todos os livros terão temática antiracista? 

Sim, foram selecionadas obras que facilitem a desconstrução de hierarquias entre os grupos raciais. A inferioridade   dos povos não brancos foi inventada com a finalidade de dominação, estudos no tema já identificaram reflexos desses pensamentos em diferentes áreas incluindo na literatura. Valores morais, psicológicos, estéticos e culturais que refletem o racismo, ainda são encontrados nas mídias, livros didáticos, teorias, literaturas. Quando falamos de representatividade negra Infantojuvenil e relações raciais é preciso um olhar crítico, não são todas obras que incluem negros e negras que são tratadas de forma empoderada e valorizada. Por se tratar de uma questão relacional, devemos observar também o modo com que os personagens brancos, suas características psicológicas e culturais são narradas. Uma posição bem conhecida é a postura do branco salvador, para enfrentamento desses lugares fixos, que o racismo emprega a nós todxs, é preciso que o grupo racial branco abra mão deste benefício de ter se representado nesse lugar de superioridade.

2-Os livros atenderão quais faixas etárias?

Considerando o público alvo da instituição, crianças e adolescentes, selecionamos de clássicos conhecidos do universo infantil, em edições adaptadas à cultura brasileira,  como  Chapeuzinho Vermelho e o boto cor de rosa, Cinderela e Chico Rei (Editora Mazza).  Assim como obras da nomeada Literatura negra do encantamento infatojuvenil, Kiusam de Oliveira à livros de fantasia de autoras africanas, Poesias e História em Quadrinhos

3-Os títulos já foram selecionados?

Fizemos uma pequena seleção com aproximadamente 40 obras e estamos contando com apoio da Livraria São José, de Mariana e Ouro Preto, para aquisição direto junto às editoras, assim que confirmarmos a possibilidade de entrega das obras selecionadas, divulgaremos. Acreditamos que essa etapa de apresentação das obras à comunidade também tem potencial educativo, uma vez que gera visibilidade para obras atuais, demonstra o amplo universo das literaturas negras, que ainda é pouco acessível, então quem busca indicações, para o trabalho, presentear alguém, ou para si, encontraram boas nesta campanha.

4-Qual valor vocês pretendem arrecadar com a vaquinha?

Iniciamos essa ação com o desejo de adquirir 40 livros antirracistas de diferente gênero textual. O que foi estimado no valor de R$2.000,00.  Iniciamos a semana com ¼ deste valor, e vamos até 31/12. A instituição escolhida é Casa Lar Estrela, que atua em Mariana, desde a década de 90, e que atualmente ocupa de assistir pessoas de 08 a 17 anos.

5-Terão livros que abordam perspectivas decoloniais e não eurocêntricas?

Sim, e isso é algo muito importante pois falamos de processos subjetivos e culturais. Nosso cuidado foi de selecionarmos livros através de indicações internas ao coletivo, bem como consideramos análises como da professora Drª Cristina Sacramento (DEEDU/UFOP), que analisou seis obras infantis, utilizadas como recurso pedagógico na abordagem da diversidade étnico-racial, por professoras e professores da Educação Infantil no município.  Essas contribuições, nos colocaram diante de narrações que descentralizam o grupo racial branco, deslocando-o de lugar de universal, de modelo único de humanidade, de saber, cultura, beleza, inteligência, valores entre outros.

São obras capazes de despertar também nas pessoas adultas, ressignificação de estereótipos raciais, identificar a distância que ainda estamos de um novo contrato social, interpessoal e institucional, em que negros e brancos se comprometam nessa agenda.

É preciso que diante das tensões que o tema possa despertar, nas famílias, no trabalho, nos relacionamentos e amizades, que as angústias sejam sustentadas e acolhidas, e no desconforto, promover movimentações capazes de uma educação para as relações raciais.

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