Artesanatos, culinária e música são alguns atrativos que levam a população de Belo Horizonte a ter uma relação de profundo afeto com a Feira Hippie, que acontece todos os domingos, na Avenida Afonso Pena. Em outubro deste ano, a feira completou 50 anos e, com o passar das décadas, se consolidou como um dos principais pontos turísticos e espaços de sociabilidade da capital mineira.
O evento ocupa em torno de 45 mil metros quadrados e recebe aproximadamente 60 mil pessoas por edição. Para César Augusto da Silva, de 53 anos, que frequenta o espaço desde a infância, a feira é o “lugar do encontro” e permite reunir toda a diversidade de classe, raça, gênero e cultura de Belo Horizonte.
“Aqui você encontra pessoas com poder aquisitivo grande e com poder aquisitivo menor. Pessoas que ‘viraram a noite’, que vieram fazer compras ou que vieram apenas para ver pessoas. A feira é um encontro de diversidades, que une as pessoas”, explica.
“Pessoas que nunca vieram ao município, quando chegam na feira são muito bem recebidas. Elas veem o carinho, o amor e a receptividade que está no coração e na alma do mineiro. Aqui você encontra os hippies, a cultura preta, o povo da terra, que é chamado de indígena, todo mundo em um lugar só. Isso traz uma energia de vários povos unidos, que formaram Minas Gerais”, complementa.
De geração em geração
A trabalhadora autônoma Dirlene Silva, de 41 anos, relembra que, quando era criança, ia à Feira Hippie com os pais. Hoje, ela frequenta o espaço com os filhos e o marido, mostrando que, na capital mineira, o passeio de domingo se transformou em uma tradição passada de geração em geração.
Ela conta que o que mais gosta na feira são as opções gastronômicas e as roupas, vendidas pelos feirantes nas aproximadamente 1550 barracas, organizadas em 11 setores de artesanato e três de alimentação.
“A gente sempre está aqui, por conta da praça de alimentação, as roupas, que também são interessantes e os artesanatos. A gente gosta muito e vem sempre. A feira é um ponto turístico que todo mundo gosta, é o ‘top dos tops’”, diz Dirlene.
“Para muita gente, a feira é tudo na vida”, diz feirante
O evento foi oficializado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) em 1973, mas a história começou quatro anos antes, espontaneamente, na Praça da Liberdade. Foi apenas em 1991 que a Feira Hippie passou a acontecer na Avenida Afonso Pena, unificando as feiras das praças Raul Soares e Rui Barbosa e da Rua Gonçalves Dias, que não existem mais.
Além da cultura e do lazer, a feira também é fonte de renda para os seus mais de 1,5 mil expositores. Dados da PBH indicam que 80% dos trabalhadores vendem ali os seus produtos há mais de dez anos.
Esse é o caso do feirante Wagner Rocha, de 61 anos. A história dele com a feira começou quando tinha apenas 10 anos e acompanhava o pai, que era artista plástico e vendia suas obras no evento.
Após a morte do pai, aos 14 anos, Wagner continuou frequentando o espaço, agora como feirante, vendendo bijuterias. Desde então, toda a renda dele depende das vendas na feira.
“Para muita gente aqui, a feira é tudo na vida, inclusive para mim. Eu criei meus filhos todos aqui. Como eu não tive condições de estudar, o que eu consegui aqui na feira, é como se eu tivesse me formado em alguma coisa, que me deu oportunidade de trabalhar e ter espaço”, conta.