O Coral Cidade dos Profetas lança sua nova turnê: a série de “Concertos Itinerantes”. A próxima apresentação será em sua terra natal, Congonhas, no domingo, (22/08), na Matriz Nossa Senhora da Conceição, gratuitamente, às 11h, de acordo com os protocolos de biossegurança.
“Para o concerto em Congonhas teremos algumas músicas acompanhadas por um instrumento pouco comum chamado Espineta, além de flauta transversal, violino, violoncelo e oboé. Isto enriquecerá muito nossa apresentação”, afirma o maestro Herculano Amâncio. O projeto Concertos Itinerantes é viabilizado com o patrocínio do Instituto Cultural Vale, com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura, da Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo.
Acompanhado de orquestra de câmara e solistas, o Coral Cidade dos Profetas interpretará nas ocasiões, alguns dos clássicos do repertório que o notabilizou, pinçados originalmente em acervos setecentistas. “A cada recital um compositor do período Colonial, como Manoel Dias de Oliveira, Joaquim José Emerico Lobo de Mesquita, Padre João de Deus de Castro Lobo, Marcos Coelho Neto e Jerônimo de Souza Lobo, será homenageado, com a intenção de revelar às novas gerações sua obra e sua biografia, e de aproximar este patrimônio imaterial de um público mais amplo, durante as apresentações em igrejas, reproduzindo a mesma atmosfera do período colonial”, explica o maestro do Coro, José Herculano Amâncio.
Com esta série, o Coral Cidade dos Profetas já passou por São Brás do Suaçuí, Entre Rios de Minas, Ouro Preto e Conselheiro Lafaiete. Em setembro será a vez de São João Del Rei e Tiradentes receberem a turnê. “Essas cidades foram escolhidas porque mantêm a tradição da Música Colonial. Quando cantamos é como se a arquitetura barroca ainda presente em alguns aspectos destes lugares ganhassem sua trilha sonora”, conclui o tenor Antônio Maria Reis, um dos integrantes do grupo.
Repertório:
- Missa Pequena – Kyrie (Joaquim de Paula Souza)
- Jaculatória (Anônimo)
- Sicut Cedrus (Anônimo)
- Moteto O Vere Christe (José Joaquim da Paixão)
- Matinas do Natal – Responsório I (Anônimo)
- Tota Pulchra es Maria (Anônimo)
- Padre Nosso (Lobo de Mesquita)
- Ave Maria (Lobo de Mesquita)
- Stabat Mater (Lobo de Mesquita)
- Ofertório de Nossa Senhora da Assunção (Anônimo). Pioneirismo
Especializado na interpretação de música sacra antiga de Minas Gerais, e com três CDs gravados _ “Missa em Fá de Lobo de Mesquita”, “Mestres do Colonial Mineiro” e o disco “Louvor à Virgem Maria” _ o Coral Cidade dos Profetas desenvolve, nestas mais de três décadas de atuação, desenvolve o pioneiro trabalho de proteção deste patrimônio imaterial do País. Formação, difusão e promoção são bases das atividades desenvolvidas pelo grupo, sediado na cidade histórica de Congonhas.
Minas Gerais, nos séculos 18 e 19, protagonizou um apogeu criativo incomum com a presença de centenas de compositores _ grande parte deles atualmente desconhecidos _, e que trabalharam na criação de músicas para as celebrações litúrgicas que regiam a vida cotidiana. O tempo passou e a execução deste legado criativo do nosso povo foi deixando de acontecer, até que se restringiu basicamente aos acervos de poucas instituições de memória dedicadas à proteção das antigas partituras. O Coral Cidade dos Profetas surgiu com a proposta de divulgar esta rica musicalidade, símbolo da época do apogeu do Ciclo do Ouro.
A trajetória incomum do grupo vem proporcionando oportunidades de realização de centenas de concertos, bem como sua participação nos principais eventos culturais do interior do Estado, como Festivais de Inverno, Encontros de Corais Nacionais e celebrações litúrgicas das cidades históricas como a Semana Santa.
Mantido pela Associação Cultural Canto Livre, o Coral oferece gratuitamente, além da produção cultural, formação musical para pessoas de 12 a 80 anos, sendo reconhecido como uma das mais autênticas manifestações culturais de Minas. Toda sua trajetória foi, recentemente, registrada no documentário “Coral Cidade dos Profetas e a Música Antiga e Minas”, disponível no Youtube, no canal oficial do Coral Cidade dos Profetas (https://bit.ly/3o4r81A).
Música Colonial
Espantoso mistério envolve a formação do movimento musical de Minas Gerais, na época em que se estabelecia e se definia a sua região aurífera. Pouco se sabe sobre os primeiros músicos que se fixaram nesta região. O certo é que, imediatamente, a música se ampliou e ocupou todos os espaços sacros da região.
Mas o maior mistério é a quase ausência de brancos neste movimento, que revelou mulatos de impressionante capacidade artística, às centenas, num só século. A valorização do músico era tamanha que mulatos eram frequentemente admitidos em irmandades de brancos, a fim de reforçarem os conjuntos como compositores, cantores e instrumentistas. Havia músicos em atividade permanente, o que explica também a grande quantidade de música composta em tão pouco tempo – a maioria das partituras encontradas foi escrita nos últimos decênios do século XVIII.
Documentos comprovam que os mestres mulatos de Minas Gerais conheciam perfeitamente as formas da música. Escreviam com grande desembaraço, fazendo ostentação de uma generosíssima invenção melódica, de uma grande capacidade para modulações espantosas, de um contraponto fluido e de uma prosódia correta, como profundos conhecedores que foram do Latim e da liturgia. É neste plano estilístico que se enquadram as composições escolhidas para o repertório da série de concertos, que compõem a ação cultural proposta pelo projeto.
A respeito desta música, o pesquisador Benedito Lima de Toledo escreveu: “Estamos no cenário de um espetáculo que ganhou características operísticas. É preciso proclamar a Fé “In Hynnis et Canticis” (com hinos e cânticos), como desde o Concílio de Trento a Igreja vinha recomendando. Assim, do coro das igrejas, vem música que preenche todo o espaço, fazendo vibrar desde a tábua do assoalho até o forro. O compositor pode ser brasileiro, mas na letra é usado o Latim e o povo entende apenas um credo aqui ou um glória ali, em meio à profusão de vozes, profusão coerente com a profusão decorativa: profusão barroca… Assim, todos os sentidos são solicitados, e com eles todos os sentimentos…”
Fotos: Ane Souz