A fé que move centenas de romeiros e mantém viva a tradição do Jubileu do Bom Jesus de Matozinhos há 243 anos em Congonhas, também tem sido a fonte de inspiração para o trabalho da fotógrafa e jornalista, Carol Lacerda, que inaugura a sua primeira exposição solo no dia 4 de setembro, às 19h30, no Museu de Congonhas.
“Da Tábua Votiva à Fotografia – Retratos do tempo”, traz um registro documental dos ex-votos da Sala dos Milagres do Santuário do Bom Jesus de Matozinhos e coloca em evidência a variedade dos objetos da manifestação de fé que atravessa os séculos.
A devoção ao Bom Jesus em Congonhas nasceu por volta de 1757, quando o português Feliciano Mendes iniciou na cidade a construção de uma capela, como agradecimento por uma graça alcançada.
O ex-voto do minerador é o ponto de partida para uma tradição secular, que se renova a cada ano, com a passagem de milhares de devotos por Congonhas.
A mostra, que abre as festividades do Jubileu do Bom Jesus de Matozinhos no Museu de Congonhas, conta com 35 fotografias, que retratam a devoção ao Bom Jesus sob três perspectivas: a da própria fé, a do patrimônio e a da comunicação popular. “Dentro do contexto religioso, o ex-voto é um objeto de expressão da fé católica, mas ele assume outros sentidos quando se torna um documento histórico, um objeto patrimonial e um meio de comunicação popular capaz de promover a manutenção dessa tradição por quase 300 anos”, afirma a fotógrafa congonhense.
Os registros foram produzidos durante o no jubileu de 2022, o primeiro após 2 anos de pausa em razão da pandemia.
Vestígios da devoção
Além de imagens dos romeiros ocupando o santuário e transformando o cenário genialmente construído pelas obras do mestre Antônio Francisco Lisboa, as fotos retratam os inúmeros vestígios dessa devoção, que vão desde a tábua votiva (tipo de ex-voto popular nos séculos XVII e XVIII), até a fotografia – objeto mais comum nos dias de hoje – além de bilhetes e velas, passando por mechas de cabelo humano e embalagens de medicamentos.
Tudo para agradecer ao Bom Jesus e provar a sua graça.
“O Santuário é o nosso primeiro ex-voto e depois dele, Congonhas, uma cidade que teve seu destino traçado pela mineração, recebe a marca da devoção em sua história. No entanto, a própria população da cidade desconhece boa parte dos fatos e por isso não dá o devido valor a essa raiz cultural. Acredito que a exposição pode despertar o interesse não só dos romeiros, que também são protagonistas, mas também dos congonhenses, sobre a relevância do jubileu e da devoção para Congonhas”, pontua Carol Lacerda.
Algumas fotografias deste mesmo trabalho de Carol Lacerda compõem também a exposição fotográfica “Devoção – Mas trazemos flores, prendas e rezas”, em cartaz na Câmera Sete, A Casa da Fotografia de Minas Gerais, em Belo Horizonte. O convite veio da Gerência de Artes Visuais do Palácio das Artes, que neste ano produziu a “Ópera Devoção”, que conta justamente a história da construção do Santuário do Bom Jesus em Congonhas.
A exposição “Da Tábua Votiva à Fotografia – Retratos do tempo”, ficará em cartaz no Museu de Congonhas durante todo o mês de setembro, com entrada gratuita entre os dias 7 e 22 e nas quartas-feiras. O projeto é executado com recursos da Lei Paulo Gustavo e conta também com o subsídio da Prefeitura de Congonhas e apoio do Museu de Congonhas.
Foto: Raíssa César e Carol Lacerda