Contribuir para a universalização dos serviços de saneamento no território é uma das missões do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas).
Assim, na última semana, o colegiado – com apoio da Agência Peixe Vivo e Subcomitê Nascentes e sob execução da empresa CR-ETES – elaborou e apresentou projetos de coleta de esgoto, ligados ao Programa de Saneamento Rural, para os habitantes dos subdistritos de Maciel, Engenho D’Água, em Ouro Preto e São José da Serra, município de Jaboticatubas.
Essa iniciativa surge para cumprir o contrato nº 08/2024, que prevê a contratação de empresa para a elaboração dos projetos básicos e executivos de coleta, tratamento e destinação de esgotos domésticos por meio de módulos individuais.
Nas reuniões recentes, as famílias foram informadas sobre a tecnologia exata que estará presente em cada casa e os critérios que levaram a essa seleção.
Raymundo Sá Barreto, membro do Subcomitê Nascentes, explica como a organização atua para assegurar uma abordagem estratégica e representativa no território.
“O Comitê do Rio das Velhas se dividiu em Subcomitês para atuar de forma mais efetiva no levantamento de demandas locais,” disse Barreto.
“Com base nessas demandas, a Agência Peixe Vivo se encarrega de executar os projetos.”
Segundo Raymundo, após a identificação das necessidades, foi aberto um edital específico para a criação de um projeto executivo, que envolveu visitas às propriedades e à comunidade de São Bartolomeu, onde serão implementadas soluções de coleta e tratamento de esgoto adequadas a cada realidade local. “Agora, será aberto um novo edital para selecionar a empresa responsável pela execução dos projetos já elaborados,” completou.
Moradores celebram a captação de esgoto nos distritos beneficiados
Os projetos contemplam 33 residências em Maciel e 43 em Engenho D’Água, duas localidades pertencentes ao território distrital de São Bartolomeu, em Ouro Preto.
Apesar de serem localidades de extremo valor cultural e histórico, os habitantes ainda precisam lidar com a falta de um direito básico: o saneamento. Basicamente, todos os terrenos precisam criar as suas soluções para despejar o esgoto, seja com fossas ou liberando os dejetos no Rio das Velhas.
Essa falta de estrutura gera diversos problemas sociais e ambientais na comunidade.
Em um primeiro momento, o dia a dia é dificultado pela falta de uma destinação adequada, isso porque as fossas individuais precisam ser limpas e quando não existe essa possibilidade, outro buraco precisa ser feito.
Em um âmbito coletivo, as casas que depositam o esgoto diretamente no Rio podem contribuir para a contaminação das águas.
Olhar coletivo
Esse segundo caso é o de Gisele Luzia Batista Gomes, de 30 anos, que vive em Maciel desde que nasceu.
Ela contou que atualmente descarta os resíduos domésticos diretamente no curso d’água, situação que considera prejudicial.
“Acho muito importante ter esse projeto porque é muito prejudicial para a saúde da gente e para o rio. Muitas casas têm fossas, mas são caras para limpar, e algumas pessoas acabam abrindo mais espaços para despejar,” relatou.
A moradora destacou o impacto positivo do projeto para a qualidade de vida da comunidade e o meio ambiente. “
Esse curso de água onde a gente joga deságua no Rio das Velhas, que já está quase acabando de esgoto. Então, pensando nas minhas filhas, acho que no futuro vai ser muito bom para elas. A gente vai ter a consciência limpa de que não está poluindo”
E esse olhar para o coletivo é compartilhado por muita gente em Maciel. Maria da Graça Guerra Lajes, ou somente Dona Graça, de 72 anos, vive há duas décadas no Subdistrito, e para ela, esse projeto de saneamento
“É, para mim, a coisa mais importante que existe, porque estamos na cabeceira do Rio das Velhas,” afirmou.
“Às vezes, pela simplicidade da gente, achamos que fazer um buraco e jogar o esgoto ali não contamina o solo, a água, o lençol freático. Esse projeto é essencial para o nosso bem-estar e para o rio.”
Embora não seja nativa do distrito — ela se mudou para Maciel em 2004, vindo de Conceição do Mato Dentro — Dona Graça desenvolveu um forte laço com a região e expressa um grande apreço pela iniciativa.
Na reunião, ela estava com uma camisa em homenagem à localidade, com uma foto e um poema.
Para ela, o diferencial desse projeto é o cuidado que a empresa CR- ETES teve para com a comunidade.
“Estou encantada com o processo. Eles conhecem o nome das pessoas, a realidade de cada casa. Eu nunca vi nada assim, tão bonito e envolvente,” contou.
Boas expectativas também na região da Serra do Cipó
Comunidade e empresa em sinergia em busca dos próximos passos
Após a elaboração e aprovação dos projetos pela Agência Peixe Vivo, a próxima etapa será a licitação para contratar uma empresa que execute a instalação dos sistemas de tratamento de esgoto. A expectativa é de que os novos módulos individuais de saneamento sejam implementados no próximo ano, garantindo uma melhoria significativa na qualidade de vida da população rural e na preservação dos recursos hídricos da região.
Por isso, Lívia Lobato, diretora da CR-ETES, destaca a relevância de ter ao lado o apoio dos moradores:
“Desde os primeiros momentos, fizemos uma mobilização social intensa, e a receptividade foi muito positiva. Eles são os beneficiários diretos e precisam estar cientes da importância de cada etapa,” comentou. Com adesão de quase 100% em Maciel, por exemplo, os moradores participaram ativamente das reuniões, demonstrando grande interesse em colaborar com o desenvolvimento sustentável local.
E essa relação positiva é fundamental dado o valor ambiental do Rio das Velhas para as centenas de comunidades que circundam os seus mais de 800 km de extensão.
Análise
Tiago Borges, engenheiro responsável pela apresentação dos projetos à comunidade, destaca a localização estratégica de Maciel e Engenho D’Água, próximas à nascente do Rio das Velhas.
“O projeto visa a despoluição desse curso de água desde sua base, no nascimento, um ponto crucial para a saúde de toda a bacia hidrográfica,” explicou Borges.
Ele ressaltou que, ao focar na nascente, a iniciativa ajuda a proteger o rio desde suas fontes, contribuindo para a qualidade das águas em toda a sua extensão até o Rio São Francisco.
Para Tiago Borges, o sucesso do saneamento rural depende do envolvimento ativo da comunidade.
“A participação dos moradores é essencial na escolha das tecnologias, garantindo que eles se apropriem das soluções e que o tratamento de esgoto seja eficaz,” disse ele.
Após a apresentação dos projetos e discussão das propostas, os moradores assinaram o termo de aceite, que indica sinal positivo para a continuidade do projeto. Agora, a empresa e a Agência Peixe Vivo levam os croquis para discussão junto ao comitê, com os apontamentos dos moradores. Depois, será elaborado um outro edital para contratação da empresa que executará o projeto, levando saneamento rural para centenas de pessoas.
Foto: Ane Souz